terça-feira, 31 de março de 2009

Diploma de Jornalismo

Por João José de Oliveira Negrão

Estão na pauta do STF, para serem votadas quarta-feira (01/04), duas questões que dizem respeito aos jornalistas e a toda sociedade: a Lei de Imprensa e a exigência do diploma superior específico para o exercício da profissão de jornalista no Brasil.
A lei que regulamenta a profissão – e exige a formação universitária – já tem 40 anos. Mas em 2001 uma juíza substituta, chamada Carla Rister, concedeu uma liminar que eliminou a necessidade do diploma (de qualquer diploma, destaque-se). Em 2005, o Tribunal Regional Federal da 3a. Região derrubou a liminar e confirmou a regulamentação profissional, mantendo a exigência da formação superior. Como houve recurso ao STF, a decisão liminar continuou valendo.

Criou-se então uma figura estranha: o jornalista precário, aquele que exerce a profissão sem estar devidamente qualificado para tal. Este embrulho jurídico pode ter fim na quarta-feira.
Ao contrário das aparências, este não é um assunto exclusivo da categoria dos jornalistas. Está em risco o direito da sociedade de receber informação qualificada, apurada por profissionais capacitados, com formação teórica, técnica e ética.

Por isso, em defesa do diploma, o Sindicato dos Jornalistas de SP – Regional Sorocaba; a Associação Sorocabana de Imprensa; a Aliança Internacional de Jornalistas pela Paz e o curso de Jornalismo da Universidade de Sorocaba, além de profissionais e estudantes de Jornalismo da região vão realizar uma manifestação na Câmara Municipal de Sorocaba, no dia 31 de março, terça-feira, às 9h. Jornalistas, estudantes e demais interessados estão convidados.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Guerra reveladora

Por João José de Oliveira Negrão

A Folha de S. Paulo e a rede Record estão em plena guerra. As acusações de uma contra a outra pululam nos editoriais e telejornais. Cá entre nós, penso que, neste caso, ambas dizem a verdade. Mas o que merece destaque é o fato de se romper um pacto de silêncio que envolve as instituições jornalísticas no Brasil: um não fala, não cita, não critica e muita vezes não diz nem o nome do outro.

Isso, que acontece na grande imprensa nacional e parece um acordo de cavalheiros (ou seria omertá) da dezena de famílias do baronato midiático, se repete na imprensa local. Apenas alguns outsiders, como a CartaCapital, a Caros Amigos e alguns sites e blogs fazem crítica do jornalismo.
E é um contrassenso, pois o jornalismo tem por hábito e dever referir-se a tudo que diga respeito ao espaço público. Assim, a política deve ser criticada, a economia deve ser criticada, as universidades e as escolas públicas e privadas, as empresas e seus produtos e serviços. Mas também o jornalismo, componente indispensável da democracia contemporânea.

Nossos jornais falam de tudo e de todos, criticam e elogiam a tudo e a todos, menos a eles mesmos. Aqui mesmo em Sorocaba, com raríssimas exceções vemos um jornal ou emissora citar o nome do concorrente ou denunciar seus erros factuais ou de conduta profissional. É a política editorial, dizem. Os leitores e a democracia só terão a ganhar se os jornais romperem este pacto. Nós, consumidores de notícias, devemos reivindicar isso. A transparência – tão cobrada pelos jornais das instituições da sociedade contemporânea – tem de ser autoaplicada pelos veículos jornalísticos.

(Publicada originalmente no Bom Dia Sorocaba, de 23/03/2009)

quinta-feira, 5 de março de 2009

Ato contra a 'ditabranda' neste sábado

Por Altamiro Borges *

Neste sábado, 7 de março, às 10 horas, ocorrerá o ato de repúdio à Folha de S.Paulo, que num editorial infame qualificou a ditadura militar brasileira de "ditabranda". Os presentes também prestarão solidariedade à professora Maria Victória Benevides e ao jurista Fábio Konder Comparato, agredidos pelo jornal, que rotulou as criticas de ambos ao editorial como "cínicas e mentirosas". O protesto ocorrerá em frente ao prédio da Folha, na Alameda Barão de Limeira, 425, no centro da capital paulista, e reunirá familiares de presos, desaparecidos e torturados pelo regime militar, intelectuais e ativistas dos movimentos sociais e das organizações de direitos humanos. Todos os que lutam contra a ditadura midiática têm um compromisso militante no sábado. Como afirma Eduardo Guimarães, editor do blog Cidadania, presidente do Movimento dos Sem Mídia e organizador do ato, não dá para se omitir diante da "perniciosa e ameaçadora revisão histórica perpetrada pelo editorial da Folha, num texto que relativizou a gravidade dos crimes cometidos pelo Estado entre os anos de 1964-1985, período no qual a nação sofreu a usurpação de um golpe militar ilegal e inconstitucional". Para fustigar os inertes, ele cita um pensamento do líder negro Martin Luther King: "O que preocupa não são os gritos dos maus, mas o silêncio dos bons".

Pesadelos da Famíglia Frias

Convocado pela internet, sem qualquer logística, o ato contra a Folha pode surpreender e deixar a famíglia Frias preocupada com os disparates que difunde impunemente. Democratas de várias localidades já confirmaram presença. Manifesto de repúdio ao editorial, deflagrado por docentes da Unicamp, já reúne mais de 7 mil assinaturas - a mais recente adesão foi de Oscar Niemeyer, um símbolo da luta democrática. Como afirma o manifesto, "o estelionato semântico manifesto pelo neologismo ‘ditabranda’ é, a rigor, uma fraudulenta revisão histórica forjada pela minoria que se beneficiou da suspensão das liberdades e direitos democráticos no pós-64".O editorial da Folha, publicado nas vésperas do Carnaval, tirou a fantasia deste jornal que ainda engana alguns ingênuos com o seu falso ecletismo. Revelou que o Grupo Folhas, de propriedade da Famíglia Frias, sempre teve fortes tendências fascistizantes e golpistas. Ele clamou pelo golpe militar de 64, apoiou a linha dura dos generais golpistas e cedeu a sua estrutura para a tortura dos presos políticos. De forma habilidosa, a Folha apoiou a campanha pelas Diretas-Já, como relata o jornalista Ricardo Kotscho no livro "Do golpe ao Planalto". Mas nunca abandonou o seu instinto golpista, como ficou patente nas suas colunas favoráveis ao impeachment do presidente Lula.

Boicote total à Folha

Diante desta trajetória, a jornalista Elaine Tavares foi certeira: "Sempre me causou espécie ver a intelectualidade de esquerda render-se ao feitiço da Folha, que insistia em dizer que era ‘o mais democrático’ ou que ‘abria espaço para a diferença’. Ora, o jornal dos Frias pode ser comparado à velha historinha do lobo que estudou na França e voltou querendo ser amigo das ovelhas. Tanto insistiu que elas foram visitá-lo. Então, já dentro da casa do lobo, ele as comeu. Uma delas, moribunda, lamentou: ‘Mas você disse que tinha mudado’. E ele, sincero: ‘Eu mudei, mas não há como mudar os hábitos alimentares’. E assim é com a Folha... São os seus hábitos alimentares".O editorial da Folha expressa a radicalização da direita nativa, que perde nacos do poder político e teme seu futuro - inclusive na sucessão presidencial. Diante desta exasperação, é preciso adotar medidas mais efetivas. A corajosa Maria Victória Benevides, difamada pelos estrumes da direita, já anunciou que cancelará a sua assinatura da Folha, e Elaine Tavares arrematou: "A Folha é lixo e como tal deve ser descartada. Penso eu que se cada ser humano neste país que ficou indignado com a Folha deixar de comprá-la, ela não se sustenta. Se serve à elite, que seja alimentada por ela somente". Eu já estou cancelando a minha assinatura! Boicote total à Folha de S.Paulo.

* Jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB - Partido Comunista do Brasil

segunda-feira, 2 de março de 2009

A Folha e a ditadura

Por João José de Oliveira Negrão

A Folha de S. Paulo parece querer voltar ao início dos anos 80 quando, dirigida pelo então jovem príncipe herdeiro Octávio Frias Filho, criava polêmicas a torto e à direita como estratégia bem pensada para tentar se configurar como "o" jornal moderno de São Paulo. Em editorial no último dia 17/2, o jornalão refere-se ao regime militar brasileiro como "ditabranda", comparando-o a outros que teriam sido mais cruéis, teriam matado, prendido e exilado mais opositores. Como se vidas ceifadas pudessem ser contabilizadas tão simplesmente.

Muitas cartas críticas e algumas defendendo a ditadura foram publicadas. Mas duas receberam respostas grosseiras e descabidas da direção do jornal: as da professora Maria Victoria Benevides e do jurista Fábio Konder Comparato. Para a Folha, em ambos, a "indignação é cínica e mentirosa", uma vez que eles nunca "expressaram repúdio a ditaduras de esquerda".

O revisionismo histórico que a Folha está tentando praticar – aliviar a inumanidade da ditadura brasileira – parece ter a intenção de amenizar seu próprio papel na sustentação daquele regime. Um dos jornais da casa, a então Folha da Tarde, tinha uma redação composta por vários delegados de polícia, muitos ligados aos aparelhos de repressão. Nas "notícias" deste jornal, presos políticos ainda vivos eram dados como mortos "ao tentar fugir". Era uma espécie de senha: a hora da morte tinha chegado. Várias fontes contam também que a Folha emprestava seus veículos de distribuição de jornal – que, por isso, circulavam sem levantar suspeitas – para o aparato repressivo e que a empresa Folha da Manhã colaborava com a Oban (Operação Bandeirantes).

Ao contrário desta, as histórias de vida tanto de Comparato quanto de Maria Victoria são infinitamente mais dignas.