terça-feira, 8 de outubro de 2013

Fidelidade partidária

João José de Oliveira Negrão

O prazo final para a filiação a um partido – essencial para quem quiser disputar um mandato nas eleições do ano que vem – se encerrou no final de semana passado. Novamente se viu a correria pelo troca-troca partidário. Segundo levantamento da Folha de S. Paulo publicado ontem, 57 deputados mudaram de legenda. O número pode ser ainda maior, pois podem haver mudanças ainda não oficializadas pela Justiça Eleitoral. São mais de 10% dos deputados federais mudando de casa.

Os novos partidos recém-criados já “conquistaram” bancadas expressivas. O Solidariedade, do deputado Paulo Pereira, o Paulinho da Força Sindical, atraiu 21 parlamentares, enquanto o PROS conquistou 16. Houve baixas tanto entre a base de apoio governista quanto na oposição. O PT perdeu um deputado, ficando com uma bancada de 86; o PSDB perdeu quatro e viu sua bancada reduzir-se a 46. O PMDB ganhou um e perdeu seis. Sua bancada, agora, é de 77 parlamentares. A Rede, de Marina Silva, que não conseguiu se organizar, se espalhou por diferentes legendas, a maioria no PSB.

Esta migração é mais um elemento a fortalecer a urgente necessidade de uma reforma política ampla, que não pode se reduzir a remendos feitos aqui e acolá. O instituto da fidelidade partidária tem de ser ampliado, com o voto em lista preordenada. É verdade que, democraticamente, a lei não pode proibir a criação de partidos. Mas torna-se cada vez mais necessária a criação de algum tipo de cláusula de barreira, para evitar que legendas de aluguel, sem base programática ou política, possam se multiplicar, de olho nas verbas do fundo partidário e no bom negócio da venda de apoios em troca do tempo de rádio e TV de que dispõem.

João José de Oliveira Negrão é jornalista, doutor em Ciências Sociais, professor no Ceunsp e na Pós-Graduação em Jornalismo da PUC-SP

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 08/10/2013)


terça-feira, 1 de outubro de 2013

Objetividade no jornalismo

João José de Oliveira Negrão

O conceito de objetividade surgiu no século XIX, herdeiro do positivismo: distinção entre fato e juízo de valor. A separação entre um jornalismo sensacionalista e marrom e um jornalismo sério (com valores da objetividade) foi uma estratégia de legitimação de um tipo de produto dentro de um campo jornalístico em formação.

Aos informadores, caberia refletir objetivamente os fatos, sem interpretações, adjetivações e valorações. Surgem nessa época as técnicas do lide e da pirâmide invertida: a redação impessoal, a ausência de qualificativos, a atribuição das informações às fontes, a apresentação das partes ou das possibilidades em conflito (doutrina do equilíbrio) e o uso de aspas garantiriam a necessária imparcialidade informativa.
Para a obtenção da verdade, não se poderia admitir qualquer introdução de elementos subjetivos na captação e na comunicação dos fatos. O que se busca é fazer crer numa coincidência entre o produto midiático e o real.

Mas a objetividade é inatingível. O fato, que dá a base real da informação, é imprevisto, e a testemunha não é necessariamente um observador experimentado. Esse fato não é suscetível de repetição, ele é único, dificultando que seja retificada uma primeira observação. O observador, por outro lado, ao expor-se a um acontecimento, vai percebê-lo conforme as limitações de seus sentidos e interpretá-lo segundo sua história, opiniões e preferências, das quais é difícil abstrair-se. Esse mesmo crivo de subjetividade está presente no jornalista, na escolha e no contato com o observador-fonte.

Outras forças agem na conformação da notícia, como a organização jornalística, os horários de fechamento e os locais dos acontecimentos, entre outras. Por isso, mais do que objetividade, devemos cobrar do jornalismo a pluralidade.


João José de Oliveira Negrão é jornalista, doutor em Ciências Sociais, professor no Ceunsp e na Pós-Graduação em Jornalismo da PUC-SP

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 01/10/2013)