Por João José de Oliveira Negrão
O norte da África, integrante do mundo árabe, vive uma onda sem precedentes de manifestações populares contra ditaduras autocráticas. Há cerca de duas semanas, a movimentação – que começou na Tunísia e se espalhou pelos países vizinhos da Argélia, Egito, Líbano, Jordânia e Iêmen – teve seu primeiro resultado concreto: o ditador tunisiano Zine el Abidine ben Ali deixou o poder depois de 23 anos.
No momento, o maior foco de rebelião se encontra no Egito. Desde o dia 25 passado, protestos de rua já resultaram na morte de mais de cem pessoas e mais de duas mil feridas. Na sexta-feira, na tentativa de manter o controle, o ditador Hosni Mubarak, no poder há 30 anos, anunciou a troca de todos os seus ministros. Ao que tudo indica, a medida não surtiu efeitos, pois as manifestações continuaram com a mesma intensidade.
Há uma série de elementos que se compõem para explicar a onda de protestos. Com maior ou menor intensidade, em cada país árabe, houve um forte deslocamento da população rural para as cidades. Os jovens, que compõem a maioria, tem mais escolaridade que seus pais. No Egito, por exemplo – conforme informou a Folha de S. Paulo ontem –, o analfabetismo chega a quase 40% do total, porém na faixa dos 15 aos 24 anos cai para 10% entre os homens e 18% para as mulheres. Na Tunísia, nesta faixa etária, é de menos de 6% entre os dois sexos. Mas,depois de medidas de liberalização econômica, são estes mesmos jovens que mais sofrem com as altas taxas de desemprego.
A questão que fica, porém, é se as manifestações podem levar à democratização da região, marcada por dinastias autocráticas, muitas com forte componente religioso, ou significarão a simples troca de uma ditadura por outra, de recorte teocrático, como aconteceu no Irã há mais de 30 anos.
João José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 31/01/2011)