Por João José de Oliveira Negrão
A divisão interna do PSDB não se resolveu. Pelo contrário, acentua-se nos bastidores a contenda entre o “serrismo” e outras forças, dentro e fora do estado de São Paulo. Sem contar questões isoladas, de interesse puramente pessoal, que membros destacados do partido trazem ao cenário – com evidente custo político. Refiro-me ao pedido de aposentadoria retroativa do senador e ex-governador paranaense Álvaro Dias (por algumas horas candidato a vice-presidente na chapa de Serra, antes de ser “limado” e trocado pelo inexpressivo Índio da Costa, do DEM carioca), que pode custar aos cofres do estado, de imediato, cerca de R$ 1,6 milhão, mais R$ 24 mil por mês até o fim da vida de Dias.
Dois veículos, a Carta Capital e a Folha de S. Paulo, trouxeram, no final de semana que passou, referências a esta disputa interna. Na revista, Marcos Coimbra, no artigo “os males do serrismo”, fala da radicalização anti-Dilma da corrente, contra a ideia “da 'colaboração federativa' buscada pelos governadores tucanos e as bancadas afinadas com eles”. O pano de fundo, diz Coimbra, “é posicionar o serrismo (de novo!) para a sucessão de Dilma”. Já na Folha, o repórter Rodrigo Vizeu fala da formação da 'tropa de choque' do senador eleito Aécio Neves, “que trabalhará para ajudá-lo na missão de tomar o PSDB e viabilizar seu nome para 2014”.
Já em agosto de 2008, na eleição municipal, tratei deste assunto aqui neste espaço. Na época, no artigo PSDB: crise e senilidade, já afirmava que “a crise é política e é de projeto. Aquele sopro modernizador do início logo transmudou-se, ao chegar ao poder com FHC, na repetição dos processos de modernização conservadora tão comuns à nossa história. As veleidades social-democratas, a ideia do Estado de Bem Estar Social e as tinturas keynesianas de política econômica foram abandonadas, trocadas pela realpolitik neoliberal então em voga. Em verdade, os princípios social-democratas estão hoje em outras mãos e os tucanos são, tão somente, conservadores tradicionais. Assim, o PSDB envelheceu antes de amadurecer. Para quem tinha, segundo Sérgio Motta, um projeto de 20 anos de poder, a senilidade chegou antes”.
Esta disputa certamente chegará às eleições municipais do ano que vem. Em Sorocaba – onde os tucanos também são rachados – Pannunzio, tradicionalmente, e Lippi, mais recentemente, abraçam o serrismo, enquanto Renato e Maria Lúcia Amary são próximos ao governador Alckmin, o PSDB governa a cidade há 16 anos. Será o fim do ciclo?
João José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 24/01/2011)
Um comentário:
Tenho a imppressão, professor, de que os setores mais ligados a Alckmin e Aécio que fazer uma oposição "pragmática", voltada a seus próprios interesses.
Já os Serristas parecem encarnar o "Tea Party" do PSDB, como única alternativa interna.
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