segunda-feira, 21 de março de 2011

Direita sem liderança

Por João José de Oliveira Negrão

Um conjunto de movimentos recentes entre as forças políticas mais conservadoras mostra que há uma crise de liderança na centro-direita e direita no Brasil. O ex-candidato a presidente José Serra, que ocupou este espaço na última eleição, tem o seu “direito natural” ao posto contestado por outras correntes tucanas e de fora do PSDB. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), atropelado pelo serrismo na sua intenção de postular a candidatura presidencial no ano passado, move-se no sentido de aglutinar os tucanos em seu entorno, bem como fatias significativas do DEM e do PPS.

Mas, à falta de uma liderança consolidada, outros candidatos à vaga também movem suas peças. É o caso do prefeito paulistano Gilberto Kassab que, ao que tudo indica, vai fundar um novo partido, o PDB. Kassab, desde suas origens malufistas, foi um político de influência relativa. Sua adesão ao serrismo acabou catapuldando-o à prefeitura de São Paulo, quando Serra a deixou para candidatar-se à Presidência. Este movimento, no entanto, criou uma ferida não cicatrizada entre os tucanos paulistas, pois, abandonado por Serra, Geraldo Alckmin viu naufragar sua tentativa de ser prefeito de São Paulo. Na política, a vingança é um prato que se come muito frio: agora, é Alckmin quem está acabando com todos os resquícios serristas no governo de SP. E o governador paulista é outro que pretende assumir a liderança das forças conservadoras.

Sorocaba, assim como outras cidades importantes, vê esta crise da centro-direita e da direita nacionais reproduzir-se em escala local. Aqui também não há um candidato “natural” das forças conservadoras para suceder Lippi. Isso leva ao ensaio de diferentes candidaturas dispostas a ocupar este espaço, em disputa pela hegemonia no mesmo bloco de forças que dirige a cidade há décadas. O cenário nacional, no entanto, não se mostra favorável ao conservadorismo. Ao contrário, as forças de centro-esquerda – que elegeram e reelegeram Lula e, agora, a presidenta Dilma – vem consolidando outro projeto de Nação e isso terá influência nas eleições locais de 2012.

João José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 21/03/2011)




segunda-feira, 14 de março de 2011

Guerra na Segurança


Por João José de Oliveira Negrão

O governo Alckmin começou a pouco mais de dois meses. E já se vê enredado pela disputa generalizada entre seus partidários e os serristas no aparelho de estado paulista. O ponto alto da luta interna está se dando na Secretaria de Segurança Pública, setor nevrálgico da gestão. Há poucos dias, foi demitido um importante quadro da pasta, o sociólogo Túlio Khan, acusado de vender informações sigilosas. A notícia foi um furo do jornal Folha de S. Paulo.

Acontece que, pouco depois, surgiu na internet um vídeo gravado pelas câmeras de segurança do Shopping Higienópolis, que mostram o próprio secretário, Antônio Ferreira Pinto, dias antes, se encontrando com o repórter que assinou a matéria da Folha, Mário César Carvalho. Há suspeitas de que o próprio Ferreira Pinto tenha entregue, num envelope, as denúncias contra Khan, demitido após a publicação da reportagem.

Ferreira Pinto era o secretário na gestão Serra e foi mantido por Alckmin. Mas aí entra em cena outro personagem, o ex-secretário e Segurança e atual secretário de Transportes, Saulo de Castro – aquele que os sorocabanos lembram bem, por causa do massacre da Castelinho – muito próximo a Alckmin. Em entrevista ao site Observatório da Imprensa, o repórter jogou lenha na fogueira: “este quadro faz parte de um panorama maior, que é uma guerra não declarada, uma guerra surda, entre o secretário de Segurança, Antônio Ferreira Pinto, e o secretário de Transportes, o Dr. Saulo [de Castro Abreu Filho], que ocupou a pasta de Segurança no governo anterior de [Geraldo] Alckmin. O grupo do Saulo foi fortemente afetado pelas medidas que o Ferreira Pinto adotou, buscando moralizar a polícia”, disse Carvalho.

A disputa interna tucana – que está se generalizando por São Paulo e pelo país; Sorocaba que o diga – ameaça a estabilidade de um setor crucial, a Segurança Pública, e poder afetar a vida de cada um de nós, moradores deste estado.

João José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 14/03/2010)


quarta-feira, 9 de março de 2011

Qual reforma?

Por João José de Oliveira Negrão

A reforma política continua sendo assunto em pauta. No entanto, há tantos projetos voltados a ela (a Folha de ontem fala em 300 propostas) e são tantos os interesses (legítimos) dos diferentes grupos sociais e políticos, que dificilmente haverá um consenso entre os parlamentares. Fruto de construções históricas, não há sistema eleitoral perfeito. Mas cada um deles atinge de modo diferente os vários atores políticos. Conforme explicou o cientista político Cláudio Couto, “cláusulas de barreira prejudicam partidos pequenos; lista fechada favorece partidos coesos e de forte identidade; 'distritão' favorece os candidatos muito endinheirados”. Assim, fechar uma proposta única não é fácil.

Há diferentes possibilidades colocadas. O sistema proporcional de lista aberta – o modelo atual – estabelece que cada partido ou coligação, dependendo do número de votos que atingir, terá direito a determinado número de vagas, que será preenchido pelos candidatos mais votados do partido ou coligação. No sistema proporcional de lista fechada, o eleitor vota não em um nome, mas na lista preordenada do partido. O 'distritão' acaba com o quociente eleitoral e apenas os mais votados – independente do partido – assumem os cargos. O voto distrital divide o país em distritos eleitorais, com população aproximada, e cada distrito elege apenas um representante. Por fim, o distrital misto mescla a lista fechada com o voto distrital. Nele, o eleitor vota duas vezes, uma na lista de partido e outra num candidato.

Cada sistema tem pretensas vantagens e desvantagens. Qual é o mais benéfico à maioria e à consolidação da democracia deve surgir de uma ampla discussão, que não pode ser encarada como exclusiva de especialistas.

João José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 07/03/2011)