segunda-feira, 14 de junho de 2010

Ética no dia a dia

Por João José de Oliveira Negrão

A campanha eleitoral formal está para começar. Certamente voltará forte ao cenário a discussão sobre a ética da política e dos políticos, reforçada, agora, pela aprovação de lei da Ficha Limpa. É importante que isso aconteça pois, mesmo que num futuro breve venha a tão sonhada reforma política, o grande juiz, nas democracias, são os eleitores.

Mas a volta do debate ético ao centro das atenções pode ser um momento de reflexão sobre as nossas práticas éticas individuais. Será que cada um de nós exerce o modelo ético que cobra dos outros? Quantos de nós – no exercício de um pequeno poder, o menor que seja, dentro da empresa, dentro de casa, nas redações e nas universidades –, coloca o comportamento ético como uma das prioridades? Quantos de nós têm justificativas éticas a posteriori para atos não muito transparentes, como se a ética fosse moda pret-a-porter, utilitária, a ser usada conforme a necessidade do momento? Quantos de nós, nestes pequenos poderes, não manipulou de acordo com nossos próprios interesses certas situações que pediam transparência de atos?

A ética, então, deve sim ser cobrada do outro, mas também de nós mesmos. Estaremos preparados?

P.S. Estou chegando aos 150 artigos publicados neste espaço. Numa rápida amostragem, com os últimos 50 deles, 36% trataram de Política; 28% de Jornalismo; 16% de Economia e 20% de outros temas. Agradeço ao jornal e aos leitores, especialmente àqueles que elogiam ou criticam as posições e análises que apresento.

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 14/06/10, com o título modificado pela redação: Dia-a-dia e a campanha)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Nacionalismo tosco

Por João José de Oliveira Negrão

O técnico Dunga, em seguidas entrevistas mal educadas, tem destacado um pretenso nacionalismo, um “quem não está comigo é inimigo da pátria”, que não aceita críticas e transforma o mundo num maniqueismo tosco do nós contra eles. É como se o futebol – um esporte emocionante, de rara beleza plástica – fosse mais que isso e virasse um quase cenário de guerra, cheio de inimigos, espiões e traidores.

A questão nacional, no Brasil e na América do Sul, tem uma dupla face: tanto justificou ditaduras militares de direita contra o inimigo “interno”, movido por ideologias “exóticas” e “estranhas à cultura ocidental e cristã”, quanto motivou movimentos populares e progressistas de libertação nacional. O nacionalismo excludente de Dunga parece mais próximo ao dos militares da linha dura, embora o futebol seja uma das nossas mais legítimas manifestações de cultura popular.

O mau humor permanente do técnico, sua grosseria em cumprimentar o Presidente da República – que, na democracia, pode ser criticado, pode ter opositores – com a mão no bolso e com ar de enfado, mais do que falta de educação, revela um despreparo para a convivência civilizada. Ninguém que reclamou da não convocação de Ganso, Neymar e Hernanes é menos brasileiro que Dunga.

Decidir quem é ou não patriota é outra das competências que Dunga não tem.

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 07/6/2010)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Brasil e o pleno emprego

Por João José de Oliveira Negrão

Lula afirmou, há duas semanas, que o Brasil se aproxima do pleno emprego. Analistas ligados ao mercado financeiro, citados pelo Estadão de ontem, no entanto, afirmam que o país já está nele, ao atingir uma taxa de desemprego – livre de influências sazonais – de 6,7% em abril, na medição feita pelo IBGE.

Tecnicamente, o pleno emprego não significa dizer que todos os trabalhadores estão empregados. Paulo Sandroni, no seu Novíssimo Dicionário de Economia, explica que “numa economia dinâmica é muito difícil a eliminação total do desemprego, pois : 1) há atividades – como a agricultura – que não ocupam continuamente a mesma força de trabalho (desemprego sazonal); 2) é necessário certo tempo para que as pessoas troquem de emprego (é o chamado desemprego friccional); 3) além disso, certas pessoas podem optar por viver desempregadas”.

Outro índice importante é o tempo de procura por trabalho. Levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) mostra que em 2010 ele fica em nove meses. Há uma década, este tempo era de um ano. Sérgio Mendonça, economista do órgão, também alerta para a falta de qualificação. “Tem uma parcela de população que vai permanecer desempregada por muito tempo, mesmo num ciclo de alto crescimento, por causa da baixa escolaridade”, declarou Mendonça.

É importante, então, que as políticas de indução ao crescimento econômico prossigam. Tomara que os tempos de apostas recessivas fiquem definitivamente no passado. Os diferentes níveis do poder público devem concentrar seus esforços para qualificar este pessoal. Para os outros, não faltam empregos.

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 31/05/2010)