Por João José de Oliveira Negrão
No livro e no filme clássicos, Sofia,
uma mãe polonesa presa num campo de concentração durante a Segunda
Guerra, é forçada por um soldado nazista a escolher um de seus dois
filhos para ser morto. Se ela se recusasse a escolher um, ambos
seriam mortos. É uma alegoria sobre decisões difíceis, nas quais
qualquer opção implica perdas dolorosas e a certeza de uma culpa
permanente. Seja qual for a alternativa escolhida, há perdas
irrecuperáveis.
É este o tipo de dilema que vive o
Partido Socialista Brasileiro (PSB), do ex-candidato a presidente
Eduardo Campos: escolhe a ex-senadora (ex-PT e ex-PV) Marina Silva
para ser a cabeça de chapa da legenda ou indica outro nome mais
identificado com a história partidária, mas sem a mesma densidade
eleitoral? É uma dificuldade concreta e não simples ranhetice do
atual presidente da legenda, Roberto Amaral. O partido se reúne na
quarta (20/8) para tomar uma decisão.
Se optar por Marina, o PSB ganha, mas
não leva. A ex-senadora já deixou claro, conforme a Folha de 18/8,
que não desistiu de criar seu próprio partido, a Rede
Sustentabilidade. No mesmo jornal, o ex-deputado Maurício Rands
(ex-PT), coordenador de programa de Eduardo Campos, frente a questão
“Marina sempre deixou claro que o partido dela não era o PSB, era
a Rede (ainda não criado). E se for eleita, tudo bem se der tchau ao
PSB?”, respondeu que “nós reconhecemos que a Rede é um partido
provisoriamente dentro do nosso”.
Outra opção seria alguém com história dentro do PSB. Mas quem? Ventilou-se o nome da deputada federal e ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, que saiu do PT para o PSB há vários anos. Outros nomes podem surgir. Nenhum deles, no entanto, com capacidade eleitoral efetiva para consolidar uma via alternativa à polarização PT – PSDB.
Com Marina, o PSB pode disputar para
valer a eleição presidencial que se aproxima, com uma candidata
competitiva – se vai ganhar ou provocar um segundo turno ainda é
cedo para dizer, apesar da análise/torcida precipitada de alguns
analistas da grande imprensa. Mas corre o risco, ganhando ou
perdendo, de desidratar-se no período pós eleitoral. Sem Marina, o
partido pode não disputar para ganhar, mas para marcar posição.
Nesta opção, talvez consiga sobreviver com menos danos – que já
são grandes com a perda de Eduardo Campos, a maior liderança do PSB
– a partir de 2015.
João José de Oliveira Negrão é jornalista, doutor em Ciências Sociais e professor universitário
João José de Oliveira Negrão é jornalista, doutor em Ciências Sociais e professor universitário
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