segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O PSB e a escolha de Sofia


Por João José de Oliveira Negrão

No livro e no filme clássicos, Sofia, uma mãe polonesa presa num campo de concentração durante a Segunda Guerra, é forçada por um soldado nazista a escolher um de seus dois filhos para ser morto. Se ela se recusasse a escolher um, ambos seriam mortos. É uma alegoria sobre decisões difíceis, nas quais qualquer opção implica perdas dolorosas e a certeza de uma culpa permanente. Seja qual for a alternativa escolhida, há perdas irrecuperáveis.

É este o tipo de dilema que vive o Partido Socialista Brasileiro (PSB), do ex-candidato a presidente Eduardo Campos: escolhe a ex-senadora (ex-PT e ex-PV) Marina Silva para ser a cabeça de chapa da legenda ou indica outro nome mais identificado com a história partidária, mas sem a mesma densidade eleitoral? É uma dificuldade concreta e não simples ranhetice do atual presidente da legenda, Roberto Amaral. O partido se reúne na quarta (20/8) para tomar uma decisão.

Se optar por Marina, o PSB ganha, mas não leva. A ex-senadora já deixou claro, conforme a Folha de 18/8, que não desistiu de criar seu próprio partido, a Rede Sustentabilidade. No mesmo jornal, o ex-deputado Maurício Rands (ex-PT), coordenador de programa de Eduardo Campos, frente a questão “Marina sempre deixou claro que o partido dela não era o PSB, era a Rede (ainda não criado). E se for eleita, tudo bem se der tchau ao PSB?”, respondeu que “nós reconhecemos que a Rede é um partido provisoriamente dentro do nosso”.

Outra opção seria alguém com história dentro do PSB. Mas quem? Ventilou-se o nome da deputada federal e ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, que saiu do PT para o PSB há vários anos. Outros nomes podem surgir. Nenhum deles, no entanto, com capacidade eleitoral efetiva para consolidar uma via alternativa à polarização PT – PSDB.

Com Marina, o PSB pode disputar para valer a eleição presidencial que se aproxima, com uma candidata competitiva – se vai ganhar ou provocar um segundo turno ainda é cedo para dizer, apesar da análise/torcida precipitada de alguns analistas da grande imprensa. Mas corre o risco, ganhando ou perdendo, de desidratar-se no período pós eleitoral. Sem Marina, o partido pode não disputar para ganhar, mas para marcar posição. Nesta opção, talvez consiga sobreviver com menos danos – que já são grandes com a perda de Eduardo Campos, a maior liderança do PSB – a partir de 2015. 

João José de Oliveira Negrão é jornalista, doutor em Ciências Sociais e professor universitário

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