segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Liberdade para os iguais

Por João José de Oliveira Negrão

“Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos”.

Assim terminava o artigo, favorável ao governo, que custou a demissão da psicanalista Maria Rita Kehl do conjunto de articulistas do jornal O Estado de S. Paulo. O tradicional e conservador diário paulistano, de maneira transparente, apoia a candidatura Serra. O avanço da posição explícita, no entanto, sucumbiu frente ao ataque à pluralidade. Assim, a liberdade de expressão é só para quem pensa igual Na mesma seara, a Folha de S. Paulo, apelando para a Justiça, conseguiu tirar do ar um blog satírico chamado Falha de S. Paulo, alegando “uso indevido da marca”.

São estes mesmos jornais, linhas de frente de instituições conservadoras com a ANJ (Associação Nacional de Jornais), a SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) e o Instituto Millenium, que seguidamente alertam para supostos “ataques” à liberdade de imprensa e de expressão promovidos pelos governos de centro-esquerda latinoamericanos.

No entanto, até o momento em que este artigo é finalizado (domingo pela manhã), nenhuma destas organizações se manifestou sobre a demissão de Maria Rita ou sobre a proibição ao blog. Também não o fizeram os convertidos neoconservadores Marcelo Tas nem o comediante Marcelo Madureira. E não se sabe se os humoristas da Globo estão organizando alguma manifestação para as ruas do Leblon, em nome da liberdade.

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 11/10/10)

Um comentário:

Anônimo disse...

Gilberto Freyre seria útil descrevendo a história das mentalidades da mesma elite, que prega democracia, liberdade e seus valores apenas aos seus.
Obrigado professor, é um prazer poder lê-lo.