terça-feira, 21 de junho de 2011

Economia e ideologia

Por João José de Oliveira Negrão

A matéria de capa da revista Época, das Organizações Globo, da semana passada, trouxe de volta um discurso que se supunha superado. Sob o título “Estado Ltda”, a reportagem recupera o eixo central da ideologia neoliberal, que deu o tom na maior parte das políticas econômicas nas duas últimas décadas do século passado. A própria capa – pouco criativa – resgata uma imagem surrada: o estado brasileiro como um elefante a esmagar o cidadão. O texto, a clamar por privatizações, pode ser encontrado no site da revista.

Na abertura, o tom ideológico fica claro na segunda frase: “com a vitória [queda do Muro de Berlim] de um sistema baseado na livre-iniciativa – o capitalismo – sobre outro baseado no planejamento estatal – o socialismo -- , a conclusão era cristalina: o governo deveria limitar ao mínimo a regulação sobre atividades privadas”. O mantra do estado mínimo neoliberal esta aí, com todas as letras.

A revista volta no tempo, a 1989. Tivesse voltado um pouco menos, no entanto -- apenas a 2008/2009 --, veria o resultado do projeto de sociedade por ela defendido: a desregulação estatal, com a consequente falta de controles sobre o capitalismo financeiro, foi a culpada pela maior crise mundial desde o crash da bolsa de Nova York, em 1929. Dela, países como Grécia, Irlanda, Portugal, entre outros, ainda estão pagando o preço.

O projeto democrático popular – uma democracia avançada e includente -- não pode ficar preso na armadilha da dicotomia livre-iniciativa versus planejamento centralizado. Esta democracia pede uma economia mista, na qual convivam um setor estatal, importante e estratégico; um amplo setor de mercado, com sua capacidade de alocação, mas não de distribuição de riquezas; e um setor cooperativado. O eixo organizador desta sociedade não é, no entanto, o mercado ou a economia, mas a política, plenamente socializada.

João José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 20/06/2011)

Um comentário:

Anderson Oliveira disse...

O problema é a "política plenamente socializada". Onde se encontra isso?