No sábado retrasado,
de maneira clara, sem subterfúgios, foi anunciado que o
ex-presidente Lula está com um câncer de laringe. E na semana que
passou, parte das redes sociais e da mídia foi invadida por
manifestações menores, de gente que, a pretexto de crítica,
escarneceu da doença, acusou Lula de não se “tratar pelo SUS”,
como se o fato de o ex-presidente possuir um plano de saúde que
permite o atendimento pelo hospital Sírio-Libanês fosse um crime de
lesa-pátria. Outros, implícita ou explicitamente, manifestaram sua
incontida alegria com o sofrimento alheio.
E que não se pense que
a exposição pública do mais obtuso preconceito de classe e de
falta de valores humanistas limitou-se a integrantes pouco
esclarecidos da nossa sociedade. Não. “Celebridades”,
professores universitários, agentes do Estado (como promotores)
irmanaram-se no ressentimento mais tacanho. Assim agiram também
certos jornalistas e colunistas: Lúcia Hippólito, da rádio CBN,
disse que, para Lula, tinha chegado a conta de uma “vida
desregrada”.
Felizmente, esta
minoria ressentida (e, que fique claro, isto não é ofensa, mas um
termo da psicanálise) não representa nem de longe o sentimento
geral dos brasileiros, que de maneira geral são solidários. E a
oposição oficial, também felizmente, portou-se com maior
civilidade, ao menos publicamente. Um dos primeiros a sair em defesa
de Lula foi o ex-presidente FHC, que atribui aqueles comentários a
“uma espécie de recalque e eu não endosso isso”. Geraldo
Alckmin e Roberto Freire, líder do PPS, também manifestaram
solidariedade. José Serra, ao que tudo indica, não se manifestou.
Mas, como já disse Tom
Zé, a burrice anda na esquerda e anda na direita. Se foi
majoritariamente desferida por gente que poderia ser considerada de
“direita”, a “campanha” de regojizo pelo câncer de Lula
também contou com a participação de quem se considera à
“esquerda” do ex-presidente. Igualmente tolas foram certas
manifestações – também na internet – retrucando que, se Lula
devia tratar-se no SUS, FHC devia abrir mão de aposentadorias
maiores que o teto do INSS: uma “resposta” medíocre a uma
campanha medíocre, irmanadas, ambas, pela despolitização.
João José de
Oliveira Negrão é jornalista,
doutor em Ciências Sociais e
professor no Ceunsp
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 14/11/2011)
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