Por João
José de Oliveira Negrão
A chegada aos governos
de partidos e candidatos de extrato popular em parte da América
Latina tem publicizado vontades excludentes de setores de nossas
sociedades, marcadas historicamente por forte clivagem social. Na
Bolívia, por exemplo, presidida por Evo Morales – oriundo de etnia
indígena --, já há algum tempo parcela branca da população de
Santa Cruz, a província mais rica do país, quer se separar do resto
da nação.
No Brasil, o mesmo
movimento excludente – se não chega a ser tão radicalizado –
também se manifesta no cotidiano. Há meses, foram moradores de
Higienópolis, bairro elegante da cidade de São Paulo, que se
movimentaram para evitar que uma estação de metrô fosse instalada
no local. O medo era que isso trouxesse para a região gente
“diferenciada” – leia-se trabalhadores assalariados – que
“desfigurassem” o bairro.
Poucas semanas atrás,
comerciantes, moradores e síndicos de prédios em Pinheiros entraram
na Justiça para evitar que um albergue noturno, já localizado no
bairro, se mudasse para um outro imóvel, maior e mais adequado,
porque isso iria prejudicá-los. Mas o promotor Maurício Antônio
Ribeiro Lopes não só comparou a iniciativa às tomadas na Alemanha
nazista, como indeferiu o pedido e enviou os nomes de seis síndicos
que assinaram a petição para a Delegacia de Polícia Especializada
em Crimes Raciais de Delitos de Intolerância (Decradi). Todos serão
alvo de inquérito por intolerância social, prevista na Constituição
(art. 5.º, inciso 41).
Agora, seguindo o
exemplo de seus “companheiros” de Higienópolis, moradores de
Ipanema, no Rio de Janeiro – que tem um dos preços por metro
quadrado mais caros do mundo –, também querem evitar a construção
de uma estação de metrô na Praça Nossa Senhora da Paz, para não
“descaracterizar” o entorno.
É preciso que os segmentos mais avançados e democráticos fiquem atentos a tais movimentos. Não se constrói uma sociedade razoável alimentando-se o ovo da serpente da intolerância e da apartação. Tomara que o exemplo do promotor Maurício Lopes floresça.
João
José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor
em Ciências Sociais e professor no Ceunsp
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 24/10/2011)
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