segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Decadência acelerada

Por João José de Oliveira Negrão

Quando a gente acha que os meios de comunicação tradicionais chegaram ao fundo do poço, eles nos surpreendem e descem ainda mais. Há poucas semanas, a Veja – revista semanal de maior tiragem no Brasil – descreveu os “milagres” conseguidos por obesos, ou simplesmente por quem estava acima do peso, que usaram o remédio Victoza. Acontece que tal medicação é indicada exclusivamente para portadores de diabetes. Houve uma corrida às farmácias e o produto começou a faltar mesmo para aqueles que dele necessitavam de fato. Segundo nota da Anvisa, o uso indiscriminado coloca em risco a saúde, pelos efeitos colaterais: hipoglicemia, dores de cabeça, náuseas, diarreias, risco de pancreatite, desidratação, problemas na função renal e distúrbios na tireoide.

Depois veio o caso do, digamos, “humorista” Rafinha Bastos que – em mais uma da coleção de infâmias e baixarias do CQC – disse que “comeria” a cantora Wanessa Camargo e o filho que ela traz no ventre. Como, desta vez, o alvo da, digamos, piada, não foi um funcionário público de baixo escalão nem morador da periferia – alvo preferencial dos telebarracos – a reação não tardou. Sob o risco de perder patrocinadores de peso, até os colegas de bancada de Bastos, Marcelo Tas e Marcio Luque – exclusivamente neste caso, frise-se – criticaram o, digamos, humorista. O mesmo não aconteceu quando Bastos, num show de stand up, disse que mulher feia devia sentir-se feliz ao ser estuprada.

Agora, temos o caso da TV Correio (repetidora da TV Record na Paraíba) e o apresentador do programa policialesco – como tantos outros – Correio Verdade, Samuel de Paiva Henrique (conhecido pela alcunha de Samuka Duarte), que exibiram um estupro real. Por causa disso, o Ministério Público Federal na Paraíba (MPF) propôs, no dia 6, ação civil pública com pedido de liminar. As cenas, filmadas com o uso de um celular por um comparsa do autor da violência contra uma menor em Bayeux (PB), foram exibidas no programa da última sexta-feira, 30 de setembro.

A sequência de casos, concentrada em tão pouco tempo, fala por si só do circo de horrores que a busca desenfreada por audiência pode fazer. A falta de ética e de bom senso são os maiores inimigos da liberdade de imprensa.

João José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 10/10/2011)


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