Por João
José de Oliveira Negrão
Bobbio
afirma que as relações do indivíduo com a sociedade são vistas
pelo liberalismo e pela democracia de modo diverso. Diz o pensador
italiano: “Do indivíduo, o [liberalismo] põe em evidência
sobretudo a capacidade de autoformar-se; a [democracia] exalta
sobretudo a capacidade de superar o isolamento com vários
expedientes que permitam a instituição de um poder finalmente não
tirânico. Trata-se no fundo de dois indivíduos potencialmente
diversos: como microcosmo ou totalidade em si perfeita, ou como
partícula indivisível mas componível e re-componível com outras
partículas semelhantes numa unidade superior”.
Por
seu lado, o neoliberalismo – que Bobbio identifica com o liberismo,
a absolutização do mercado como o único elemento organizador da
sociedade – é negador da política, entendida como “mal
necessário”. Para Milton Friedman, economista norteamericano,
representante do pensamento neoliberal, o mercado é a efetiva
representação proporcional, enquanto a política é uma
representação limitada.
Essa
negação à política, conforme o francês Bruno Théret, “constitui
um discurso sobre o político baseado no econômico. Essa retórica
pode ser qualificada de reacionária, pois ela remete à filosofia
liberal pré-democrática dos direitos naturais e reata com o velho
tema das desigualdades criadoras e o darwinismo social [...] Ela se
opõe às ideias de regulação voluntária, quer dizer, resultante
de uma ação política, considerando que a ordem social é muito
mais bem assegurada pelo funcionamento de um mercado autorregulador e
pelos efeitos mecânicos dos comportamentos mercantis dos indivíduos
atomizados e concorrenciais[...] Pura ideologia negativa em sua forma
doutrinária e simples prática de desestruturação em sua forma
gestionária, [o neoliberalismo] não permite conceber, e menos ainda
instituir, um espaço cognitivo comum e instituições coerentes”.
João José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 21/05/2012)
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