domingo, 21 de dezembro de 2008

Imprensa e subcelebridades

João José de Oliveira Negrão

Marcelo Silva, 38 anos, ex-policial, morreu supostamente por overdose de cocaína, num quarto de hotel. Para qualquer editor, quando muito isso viraria uma nota, num jornal de circulação nacional, ou uma matéria interna, no caderno policial, de no máximo umas 40 linhas, talvez com direito a chamada de capa na dobra inferior, num jornal local (desde que da cidade onde o fato tivesse acontecido).

Mas a morte de Marcelo Silva ganhou, na semana passada, a capa de duas das principais revistas semanais de “informação”, Veja e Época, além de destaque em outros veículos “sérios”. As revistas e os programas de celebridades, então, não falaram de outra coisa. Até o pretensiosamente intelectualizado Saia Justa, do GNT, dedicou-se ao tema. Qual a diferença entre um Marcelo Silva qualquer, genérico, e este específico? O ex-policial foi casado por alguns meses com uma atriz global, 29 anos mais velha que ele.

O casamento de Suzana Vieira com Silva foi tornado público. Os percalços da relação foram tornados públicos. O fim do casamento foi tornado público. Isso tudo por uma mídia que virou uma indústria de celebridades, subcelebridades e celebridades adjuntas, na qual a distinção entre o jornalismo “sério” e o de “fofocas de vida de artista” é cada vez mais borrada.

Muitos veículos e editores se escudam numa pretensa sabedoria de que “isso é notícia” e que o público tem o “direito” de saber para defender tal decisão editorial. Com isso, liqüefazem o papel histórico do jornalismo na construção da sociedade democrática e, pior do ponto de vista da sobrevivência, abrem mão do futuro, pois os cidadãos estão cada vez mais cansados dessa superficialidade.

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