segunda-feira, 2 de março de 2009

A Folha e a ditadura

Por João José de Oliveira Negrão

A Folha de S. Paulo parece querer voltar ao início dos anos 80 quando, dirigida pelo então jovem príncipe herdeiro Octávio Frias Filho, criava polêmicas a torto e à direita como estratégia bem pensada para tentar se configurar como "o" jornal moderno de São Paulo. Em editorial no último dia 17/2, o jornalão refere-se ao regime militar brasileiro como "ditabranda", comparando-o a outros que teriam sido mais cruéis, teriam matado, prendido e exilado mais opositores. Como se vidas ceifadas pudessem ser contabilizadas tão simplesmente.

Muitas cartas críticas e algumas defendendo a ditadura foram publicadas. Mas duas receberam respostas grosseiras e descabidas da direção do jornal: as da professora Maria Victoria Benevides e do jurista Fábio Konder Comparato. Para a Folha, em ambos, a "indignação é cínica e mentirosa", uma vez que eles nunca "expressaram repúdio a ditaduras de esquerda".

O revisionismo histórico que a Folha está tentando praticar – aliviar a inumanidade da ditadura brasileira – parece ter a intenção de amenizar seu próprio papel na sustentação daquele regime. Um dos jornais da casa, a então Folha da Tarde, tinha uma redação composta por vários delegados de polícia, muitos ligados aos aparelhos de repressão. Nas "notícias" deste jornal, presos políticos ainda vivos eram dados como mortos "ao tentar fugir". Era uma espécie de senha: a hora da morte tinha chegado. Várias fontes contam também que a Folha emprestava seus veículos de distribuição de jornal – que, por isso, circulavam sem levantar suspeitas – para o aparato repressivo e que a empresa Folha da Manhã colaborava com a Oban (Operação Bandeirantes).

Ao contrário desta, as histórias de vida tanto de Comparato quanto de Maria Victoria são infinitamente mais dignas.

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