segunda-feira, 23 de março de 2009

Guerra reveladora

Por João José de Oliveira Negrão

A Folha de S. Paulo e a rede Record estão em plena guerra. As acusações de uma contra a outra pululam nos editoriais e telejornais. Cá entre nós, penso que, neste caso, ambas dizem a verdade. Mas o que merece destaque é o fato de se romper um pacto de silêncio que envolve as instituições jornalísticas no Brasil: um não fala, não cita, não critica e muita vezes não diz nem o nome do outro.

Isso, que acontece na grande imprensa nacional e parece um acordo de cavalheiros (ou seria omertá) da dezena de famílias do baronato midiático, se repete na imprensa local. Apenas alguns outsiders, como a CartaCapital, a Caros Amigos e alguns sites e blogs fazem crítica do jornalismo.
E é um contrassenso, pois o jornalismo tem por hábito e dever referir-se a tudo que diga respeito ao espaço público. Assim, a política deve ser criticada, a economia deve ser criticada, as universidades e as escolas públicas e privadas, as empresas e seus produtos e serviços. Mas também o jornalismo, componente indispensável da democracia contemporânea.

Nossos jornais falam de tudo e de todos, criticam e elogiam a tudo e a todos, menos a eles mesmos. Aqui mesmo em Sorocaba, com raríssimas exceções vemos um jornal ou emissora citar o nome do concorrente ou denunciar seus erros factuais ou de conduta profissional. É a política editorial, dizem. Os leitores e a democracia só terão a ganhar se os jornais romperem este pacto. Nós, consumidores de notícias, devemos reivindicar isso. A transparência – tão cobrada pelos jornais das instituições da sociedade contemporânea – tem de ser autoaplicada pelos veículos jornalísticos.

(Publicada originalmente no Bom Dia Sorocaba, de 23/03/2009)

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