segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Tucano verde


Por João José de Oliveira Negrão


A candidatura presidencial da senadora Marina Silva – que deixou o PT e pode disputar a Presidência da República pelo Partido Verde – sofreu um forte abalo na semana que passou. Depois de muitas idas e vindas, o deputado federal Fernando Gabeira aceitou encabeçar a chapa dos partidos de oposição ao governo Lula na disputa pelo governo do Rio de Janeiro. Gabeira será o candidato de uma frente composta pelo PV, PSDB, DEM e PPS.

Com isso, os tucanos – inexpressivos entre os cariocas – conseguiram construir um palanque forte para a candidatura de José Serra naquele estado. Mas isso reforça, entre muitos, aquilo que Marina Silva pretendia evitar: a ideia de que sua candidatura, apesar nas seguidas negações, vai se constituir numa linha auxiliar de Serra.

Acredito que Marina não queira, efetivamente, esta configuração. O difícil, no caso dela, é a própria estruturação de seu partido. O PV – sigla que tem certo charme entre setores médios da opinião pública – é uma legenda desfigurada. Em muitos locais, transformou-se, tão-somente, em linha auxiliar tucana. Sorocaba é um exemplo, pois, aqui, o PV estruturou-se a partir do Palácio dos Tropeiros, durante o governo Amary. É um processo semelhante ao que viveu o PPS que, pretenso herdeiro do velho “Partidão”, o PCB, hoje abriga um sem-número de conservadores e reacionários.

Gabeira, com estes movimentos, completa o ciclo neoudenista que vem caracterizando sua postura nos últimos anos. De críticas iniciais ao governo Lula a partir de um ponto de vista progressista e avançado, terminou – por incrível que pareça, dada sua postura e sua produção intelectual – num moralismo conservador, que abriga, numa mesma articulação, de César Maia a Sandra Cavalcanti.

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 18/01/10)

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