segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Jornais impressos

Por João José de Oliveira Negrão

A Folha de S. Paulo, talvez hoje o principal jornal impresso do país, completou 90 anos. É um bom momento para uma reflexão sobre o veículo que, ainda, é o grande signo do jornalismo. Jornal impresso e jornalismo criaram, ao longo da história, uma simbiose de tal monta que se confundem. Mas há fortes indícios de que o impresso está em decadência. Não quero, com isso, praticar futurologia nem afirmar que dentro de pouco tempo não teremos mais jornais. Como toda instituição cultural e econômica da sociedade contemporânea, entre o início dos sinais de declínio e o efetivo fim, há um hiato de várias gerações.

Mas o presente dos jornais dá o que pensar. Nos últimos anos, por exemplo, tivemos no país um efetivo crescimento econômico. O consumo de uma variada gama de produtos se elevou significativamente. Mas mesmo neste cenário, com a chegada de milhões de brasileiros às classes C e B, as tiragens pouco se alteraram. O pouco que o meio jornal cresceu deveu-se mais à chegada ao mercado de novos títulos, gratuitos ou de preços ínfimos, do que ao crescimento sustentado dos veículos tradicionais. A própria aniversariante não chega a tirar 300 mil exemplares diários, o que é muito pouco levando-se em conta que a Folha é um jornal nacional num país de 200 milhões de habitantes. Seus concorrentes ficam abaixo disso.

Outro fato recente reforça a preocupação. Rupert Murdoch, o principal representante da mídia oligopolizada no mundo, lançou, há poucos dias, o diário The Daily, que só pode ser acessado pelos proprietários de tablets como o Ipad.

Estes novos suportes à notícia, muito mais ágeis e baratos, podem suplantar rapidamente a vantagem relativa que os impressos tinham sobre os meios eletrônicos: a possibilidade da prática de um jornalismo mais aprofundado e analítico. Tablets, smartphones e netbooks, de cômoda portabilidade e boa definição de leitura, já conseguem tirar esta vantagem e angariam novos leitores de maneira muito mais intensa que as velhas mídias.

João José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 21/02/2011)

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