Por João José de Oliveira Negrão
Quem espera seriedade do jornalismo e o cumprimento de sua função social – mais do que mera máquina de fazer dinheiro para seus donos -- pensou que poderia comemorar, ontem, com a última edição do tabloide sensacionalista inglês News of the World. O semanário é uma das piores coisas (e olha que isso não é pouco) que já se produziu no jornalismo mundial.
O jornal, entre outras práticas abjetas e ilegais, costumava grampear telefones de celebridades e até da família real. Já tinha sofrido processos por isto, mas a gota d'água foi o grampo no celular de uma adolescente, Milly Dowler, assassinada em 2002: para poder continuar recebendo mensagens – que gerassem manchetes sensacionalistas --, jornalistas apagaram parte da caixa postal do telefone, que estava cheia, levando a família a crer que a menina, de 13 anos, continuava viva.
O “News”, até ontem, era talvez o maior representante do jornalismo de esgoto. Mas seu fim é ilusão. Como escreveu Alberto Dines, “sua liquidação é falaciosa, vai resumir-se à desativação do título, substituído pelo tabloide coirmão, The Sun, que passará a circular também aos domingos. E ficará muito mais lucrativo porque a News Corporation é a maior especialista mundial em esvaziar as redações de jornalistas”. A megacorporação citada por Dines é de propriedade de Rupert Murdoch, o maior magnata mundial das comunicações.
Entre outros, Murdoch é dono, também, da rede de TV Fox News (que chega ao Brasil via TV paga), do Times e do Sun, na Inglaterra, e do Wall Street Journal e do New York Post, nos Estados Unidos. Sua forma de agir, ao criar impérios midiáticos e praticar assassinato de reputações – prática em menor grau também existente em nosso país --, mostra o quanto são necessários, no Brasil e no mundo, mecanismos de regulação democrática da comunicação.
O tal “quarto poder” não pode ser uma instituição isenta de qualquer forma de controle social, cujas engrenagens opacas girem longe dos olhos dos cidadãos.
João José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 11/07/2011)
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