segunda-feira, 4 de julho de 2011

Fundamentalismo tucano

Por João José de Oliveira Negrão

Historicamente, a social-democracia tem sua fundação no final do século 19, quando o Congresso de Gotha funda o partido social democrata alemão. De inspiração marxista, a corrente política, inegavelmente, é filha do Iluminismo que funda a modernidade, ao se opor às explicações mágicas do mundo e afirmar que, através do método correto, o homem pode chegar ao conhecimento da realidade que o cerca, tanto no universo físico quanto social. A modernidade – e por consequência a social-democracia --, portanto, tensiona a cosmovisão anterior, da Idade Média, cujas explicações se baseavam na vontade insondável de Deus. É na modernidade ocidental, também, que vão ganhar corpo e ideia e a prática republicana da marcada distinção entre Estado e Igreja, o chamado laicismo.


Neste nosso século 21, no entanto, os pretensos representantes brasileiros da social-democracia (pretensão altamente questionável do ponto de vista histórico, político e sociológico) parece que querem jogar fora o laicismo. Há cerca de três anos, a deputada estadual da legenda, a sorocabana Maria Lúcia Amary, apresentou um projeto, Deus na escola, que estabelecia o ensino religioso na rede pública estadual. Em boa hora vetado pelo ex-governador José Serra, o projeto – de acordo com intenção manifestada por Maria Lúcia – pode voltar à baila.


Agora, outro tucano, o também deputado estadual Orlando Morando, apresentou projeto de lei (PL 256/11) que obriga a instalação de crucifixos em estabelecimentos de ensino paulistas. Na justificativa, Morando afirma não pretender se “contrapor ao estado laico, mas pensamos sim em manter vivo o símbolo de fé daqueles que habitam o nosso querido Estado de São Paulo”. Apesar da declaração, é evidente a imposição de uma religião sobre as outras e aos cidadãos não crentes.


Mais adiante, Morando afirma que “nossos antepassados nos legaram ensinamentos que devem ser preservados. O jargão 'Deus, Pátria e Família' sintetiza o cerne dos valores que a humanidade deve cultuar de forma permanente, independente de credo ou religião”. O lema lembra imediatamente os brados fascistas, entre outros, da TFP, do franquismo e do pinochetismo.


De filha da modernidade, nossa “social-democracia” caminha célere para a representante do atraso.


João José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 04/07/2011)

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