Por João José de Oliveira Negrão
Na semana que passou fomos inundados por “especiais”, nos jornais, tevês, revistas, rádios e internet, sobre o atentado ocorrido em 2001, contra as torres gêmeas, nos EUA. Em 11 de setembro daquele ano, mais de duas mil pessoas morreram quando a Al Qaeda, de Bin Laden, jogou dois aviões contra os prédios. A sucessão de imagens não nos deixa esquecer o horror das cenas, nem o grau de desumanidade a que podem chegar os fundamentalismos.
No entanto – e isso, penso, especialmente as tevês não aprofundaram –, não se pode reduzir tal ato à loucura de um único chefe terrorista. Entender as condicionantes da história é a maneira mais eficaz de combater a opção do terror como alternativa de luta política. Os EUA, desde sempre, operaram na lógica do “ditador amigo”, na ideia segundo a qual o “inimigo do nosso inimigo vira amigo”. Foi nesta lógica que os EUA armaram e financiaram Bin Laden para lutar contra o então governo pró-soviético do Afeganistão. A criatura, mais tarde, se voltou contra o criador.
Outro 11 de setembro, de 1973, reforça o apoio que os Estados Unidos deram aos seus ditadores leais. Foi nesta data que morreu Salvador Allende e se consolidou o golpe de estado do general Augusto Pinochet contra o presidente democrático e socialista do Chile, eleito pelo voto popular. Pinochet, com apoio da diplomacia norte-americana, jogaria o avançado país numa das piores ditaduras desta nossa América.
Evidente que não se pode, por tudo isso, justificar a ação terrorista contra populações civis. Mas se não entendermos que as decisões políticas têm consequências de longo prazo, não compreenderemos o motivo, por exemplo, do generalizado antiamericanismo que grassa entre inúmeros povos do mundo. A política externa dos EUA – que mudou pouco sob Obama – é geradora de ódios. Que o digam as crianças palestinas. E esta política, contraditoriamente, foi reforçada com os acontecimentos de 11 de setembro de 2001.
João José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 12/09/2011)
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