Por João
José de Oliveira Negrão
A Privataria Tucana é
o título do livro escrito pelo premiado jornalista Amaury Ribeiro
Jr. (três prêmios Esso e quatro prêmios Vladimir Herzog de
Direitos Humanos) e lançado no final da semana retrasada. Ele trata,
principalmente, de negociatas e corrupção durante o grosso do
processo de privatização das estatais brasileiras durante o governo
FHC. E mira em José Serra, um dos pilotos deste processo, quando
ministro do Planejamento. A filha, o genro e um primo do
ex-governador, além do ex-tesoureiro de campanhas tucanas e
ex-diretor internacional do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio, sofrem
pesadas e documentadas acusações. Só de documentos, o livro tem
cem páginas.
Fenômeno de vendas, o
livro teve sua primeira tiragem, de 15 mil exemplares, esgotada três
dias após o lançamento e foi amplamente debatido nas redes sociais.
Isso é um fato bastante raro na indústria editorial brasileira,
superando best sellers antecedidos de intensa campanha de marketing.
Estranhamente, no entanto, os grandes veículos oligopolizados da
nossa comunicação simplesmente ignoraram o fato. Folha, Estadão,
SBT, Band só foram tratar do assunto cinco ou seis dias após o
acontecimento, quando a pressão e a cobrança na internet, contra a
omissão, tornaram-se gritantes. As exceções foram a revista Carta
Capital número 676, a única que tratou do assunto com a rapidez que
merecia, e a Record News.
O mais interessante é
a adoção de dois pesos e duas medidas pela nossa grande imprensa.
Certas denúncias, quando envolvem membros do governo federal ou dos
partidos aliados, são imediatamente trazidas a público, sem maiores
cuidados de checagem e apuração. A revista favorável põe a
denúncia na capa, o telejornal campeão de audiência cita a revista
e o jornalão repercute o assunto. Quando envolvem, no entanto,
tucanos paulistas, Serra, FHC ou o governo de São Paulo, todos eles
são cheios de cuidados, exigem comprovações (que abundam, no caso
do livro de Amaury Jr., em 100 páginas) e fazem questão de “ouvir
o outro lado”. Mas ficam muito bravos quando se fala que eles não
têm isenção.
João
José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor
em Ciências Sociais e professor no Ceunsp
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 19/12/2011, com o título modificado pela redação para "Novo livro na praça" que, estranhamente, tem o mesmo número de caracteres)
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