Por João
José de Oliveira Negrão
Viver
na Europa durante a Idade Média pode ter sido muito mais simples que
nos dias atuais. Afinal, o lugar das pessoas e das coisas estava
determinado e não havia o que indagar. Se a vontade divina havia me
colocado numa casa nobre, aí residia a minha posição, confortável
e cheia de privilégios. Do contrário, os campos para serem
trabalhados, as oficinas de artesanato ou, quem sabe, a sorte de
pertencer ao baixo clero, eram destinos certos. Praticamente não
havia conflitos sobre a própria existência e como ela se dava, já
que predominava o pensamento cristão medieval, endossando este
modelo de sociedade.
A
certeza prevalecia, e não a dúvida.
No
século XVII surge o chamado conhecimento científico, que obviamente
não é o inventor da dúvida. A filosofia é conhecida desde o
período clássico, mas o pensamento científico sistematiza, através
de seus métodos, um contraponto ao senso comum.
Segundo
Solis, “o senso comum caracteriza-se como um conjunto desagregado
de ideias e opiniões difusas e dispersas que fazem parte de um
pensamento genérico de uma época ou de um certo ambiente popular”.
Pode-se
afirmar que este conhecimento comum, construído a partir de
vivências e experiências, é a nossa zona de conforto, origem de
muitas explicações, das obviedades. É o saber que não
desestabiliza, não traz em seu bojo a dúvida, mas a certeza.
Segundo
Gramsci, “somos todos conformistas de algum conformismo”. Não
escapamos do senso comum, que não pode ser separado da filosofia,
por possuir em seu bojo algo que se aproxima dela: o bom senso. Este
traz, em si, o início de uma criticidade, que nos liberta dos
impulsos instintivos e violentos.
Assim,
o senso comum não é algo a ser desprezado, mesmo porque nos
utilizamos dele para boa parte do nosso estar no mundo. Partimos do
senso comum para iniciar uma pesquisa ou reflexão que nos conduzirá
para uma criticidade dos fatos e objetos, desvelando as questões ali
contidas.
Resgatar
a importância da criticidade, da dúvida perante as verdades
contidas em nosso cotidiano é não apenas uma tarefa para os
acadêmicos, ou intelectuais, mas a necessidade de uma ação
permanente de todos.
João
José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor
em Ciências Sociais e professor no Ceunsp
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 30 de janeiro de 2012)
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