João José de
Oliveira Negrão
O conceito de objetividade surgiu no século XIX, herdeiro do positivismo: distinção entre fato e juízo de valor. A separação entre um jornalismo sensacionalista e marrom e um jornalismo sério (com valores da objetividade) foi uma estratégia de legitimação de um tipo de produto dentro de um campo jornalístico em formação.
Aos informadores, caberia refletir objetivamente os fatos, sem interpretações, adjetivações e valorações. Surgem nessa época as técnicas do lide e da pirâmide invertida: a redação impessoal, a ausência de qualificativos, a atribuição das informações às fontes, a apresentação das partes ou das possibilidades em conflito (doutrina do equilíbrio) e o uso de aspas garantiriam a necessária imparcialidade informativa.
Para a obtenção da verdade, não se poderia admitir qualquer introdução de elementos subjetivos na captação e na comunicação dos fatos. O que se busca é fazer crer numa coincidência entre o produto midiático e o real.
Mas a objetividade é inatingível. O fato, que dá a base real da informação, é imprevisto, e a testemunha não é necessariamente um observador experimentado. Esse fato não é suscetível de repetição, ele é único, dificultando que seja retificada uma primeira observação. O observador, por outro lado, ao expor-se a um acontecimento, vai percebê-lo conforme as limitações de seus sentidos e interpretá-lo segundo sua história, opiniões e preferências, das quais é difícil abstrair-se. Esse mesmo crivo de subjetividade está presente no jornalista, na escolha e no contato com o observador-fonte.
Outras forças agem na conformação da notícia, como a organização jornalística, os horários de fechamento e os locais dos acontecimentos, entre outras. Por isso, mais do que objetividade, devemos cobrar do jornalismo a pluralidade.
João José de Oliveira Negrão é jornalista, doutor em Ciências Sociais, professor no Ceunsp e na Pós-Graduação em Jornalismo da PUC-SP
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 01/10/2013)
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