João José de Oliveira
Negrão
Dias atrás, colegas que foram da
faculdade de Jornalismo criaram um grupo e alguém postou uma foto de
1979, quando fomos, em passeata, da Cásper Líbero – que fica na
Avenida Paulista – até a igreja da Consolação. Íamos participar
de um protesto, pois a polícia da ditadura tinha matado um
trabalhador, o operário metalúrgico Santo Dias. E nós, jovens
estudantes que lutávamos pela democracia, não podíamos aceitar que
greve fosse tratada a bala. Morreu um trabalhador.
Muito tempo se passou, inegavelmente
conquistamos a democracia. Tivemos seis eleições presidenciais, nas
quais quem ganhou assumiu sem problemas nem tentativas de melar o
jogo. As manifestações, como ocorre em qualquer sociedade
democrática, passaram a fazer parte integrante da vida social.
Daí, em 2014, presidenta eleita,
governador eleito, Congresso escolhido pelo povo, temos novas
manifestações. E desta vez, não foi a polícia da ditadura, mas
integrantes dos próprios grupos de manifestantes. E o assassinado
foi o repórter-cinematográfico Santiago Andrade. É verdade que não
se pode criminalizar os movimentos. Mas também não dá para aceitar
que foi simples acidente de percurso. Há quem queira que as
passeatas descambem para a violência gratuita e sabemos todos nós,
com alguma experiência em movimentos sociais, exatamente a quem ela
interessa, independente da “intenção” de quem a pratica. E não
é ao aprofundamento da democracia, mas, ao contrário, serve bem
para os setores que querem o retrocesso, a volta do autoritarismo.
Assassinato é assassinato e tem de ser punido. Morreu um
trabalhador.
João José de Oliveira Negrão é
jornalista, doutor em Ciências Sociais e professor universitário
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 12/02/2014)
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