quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Morreu um trabalhador


João José de Oliveira Negrão

Dias atrás, colegas que foram da faculdade de Jornalismo criaram um grupo e alguém postou uma foto de 1979, quando fomos, em passeata, da Cásper Líbero – que fica na Avenida Paulista – até a igreja da Consolação. Íamos participar de um protesto, pois a polícia da ditadura tinha matado um trabalhador, o operário metalúrgico Santo Dias. E nós, jovens estudantes que lutávamos pela democracia, não podíamos aceitar que greve fosse tratada a bala. Morreu um trabalhador.

Muito tempo se passou, inegavelmente conquistamos a democracia. Tivemos seis eleições presidenciais, nas quais quem ganhou assumiu sem problemas nem tentativas de melar o jogo. As manifestações, como ocorre em qualquer sociedade democrática, passaram a fazer parte integrante da vida social.

Daí, em 2014, presidenta eleita, governador eleito, Congresso escolhido pelo povo, temos novas manifestações. E desta vez, não foi a polícia da ditadura, mas integrantes dos próprios grupos de manifestantes. E o assassinado foi o repórter-cinematográfico Santiago Andrade. É verdade que não se pode criminalizar os movimentos. Mas também não dá para aceitar que foi simples acidente de percurso. Há quem queira que as passeatas descambem para a violência gratuita e sabemos todos nós, com alguma experiência em movimentos sociais, exatamente a quem ela interessa, independente da “intenção” de quem a pratica. E não é ao aprofundamento da democracia, mas, ao contrário, serve bem para os setores que querem o retrocesso, a volta do autoritarismo. Assassinato é assassinato e tem de ser punido. Morreu um trabalhador.

João José de Oliveira Negrão é jornalista, doutor em Ciências Sociais e professor universitário

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 12/02/2014)

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