quinta-feira, 29 de maio de 2008

Jornalismo e visão de mundo

Por João José Negrão
A maior parte do que conhecemos sobre o mundo vem da mídia; apenas uma parcela bem pequena é dada diretamente pelos nossos sentidos. E também muito de nossa visão sobre a sociedade, sobre o homem e de como agir. O jornalismo não transmite apenas “fatos”, mas também julgamentos, valores e interpretações.

A realidade que nos cerca não existe simplesmente como um dado, mas é também construída pela nossa maneira de vê-la. Mesmo a realidade física não é apenas apreendida pela nossa visão, tato, audição, mas reconstruída em nossas representações, quando dela falamos ou escrevemos.
As representações que temos do mundo social são ativas: nós agimos no mundo de acordo com o que sabemos dele. A conservação ou a transformação da sociedade dependem, em grande parte, dessas representações.

O jornalismo tem três etapas marcantes: a coleta de informações; a seleção e hierarquização das notícias e a distribuição dessas informações para o grande público. É na seleção que está o ponto central: o que não for selecionado e, portanto, não virar notícia, não vai ser do conhecimento da maior parte das pessoas.

A mídia ainda estabelece a agenda pública de discussões (agenda-setting) e exerce a função de “enquadramento” (framing), pela qual as questões são colocadas dentro de determinados esquemas interpretativos.

Por isso, é essencial para a democracia que uma pluralidade de pontos de vista esteja presente na mídia. A tendência do mercado, no entanto, tem sido a de concentração da propriedade por parte dos grandes conglomerados midiáticos. A sociedade e os estados democráticos, mais cedo ou mais tarde, vão ter de enfrentar este ponto de tensionamento.

Um comentário:

Anderson Oliveira disse...

Um dos principais motivos que me levaram ao jornalismo é a possibilidade da transmissão do conhecimento, da arte, da cultura. Elementos que se dão apenas assim: na interpretação e na comunicação.
A existência de Veja, Carta Capital, Caros Amigos, entre outros meios do gênero é de grande valia para a sociedade. Porém o que deveria ser de fundamental importância para a democracia, por vezes, torna-se uma arma nas mãos da "tirania" (dinheiro e poder).
Carta Capital se entrega a isso, Veja não menos.
O que leremos nós?