terça-feira, 20 de abril de 2010

Mutilação feminina

Por João José de Oliveira Negrão

O Estadão de ontem trouxe uma matéria sobre um assunto que deve preocupar a todos que veem os direitos humanos para além das fronteiras: a mutilação de meninas e jovens mulheres – em diferentes culturas e religiões –, que têm seu clitóris extirpado, na maior parte das vezes em “cirurgias” sem qualquer esterilização, para impedir o orgasmo e garantir a “fidelidade” feminina e a “tradição” de casamentos arranjados.

Considerada crime e combatida pela Organização das Nações Unidas, a excisão ainda afeta cerca de três milhões de mulheres por ano na África, no Oriente Médio, no sul da Ásia e até mesmo na Europa. E muitos, baseados num multiculturalismo de fachada – incapaz de perceber o quanto há de universalidade no gênero humano –, justificam ou aceitam a prática como um “dado cultural”, que até pode ser combatida, mas com “cautela”, para não parecer “imposição de uma cultura sobre a outra”.

No entanto, segundo a socióloga Isabelle Gillette-Faye, citada pelo Estadão, “a excisão é praticada por católicos, judeus, muçulmanos, protestantes ou animistas. Não há diferença. E nem mesmo o Islã a impõe como lei”. Os próprios EUA já praticaram abertamente a excisão até os anos 30.

Como a pedofilia, a extirpação do clitórias tem de ser combatida em todo o planeta. Para além das diferenças culturais e religiosas, há muitos pontos que nos unificam enquanto gênero. Um deles, sem dúvida -- construído historicamente --, é a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Pedofilia é crime e extirpação do clitóris é crime. Ambos devem ser punidos pelo Estado e não por qualquer outra instituição “privada”.
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 19/04/2010)

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