terça-feira, 18 de maio de 2010

Esquerda e Direita

Por João José de Oliveira Negrão

Uma das expressões que se tornaram comuns, entre pensadores conservadores e alguns tidos por pós-modernos, é o chamado fim da distinção entre esquerda e direita como indicadores de posicionamento político e de conjunto de valores e princípios explicativos da vida em sociedade. Intelectuais brasileiros e estrangeiros – especialmente na década de 90, período de maior vigor da contrarrevolução neoliberal que se espalhou pelo mundo – dedicaram-se a escrever sobre o tema. O Anjo Torto: Esquerda (e Direita) no Brasil, de Emir Sader; Para Além da Esquerda e da Direita, de Anthony Giddens; e Direita e Esquerda: Razões e Significados de Uma Distinção Política, de Norberto Bobbio, entre outros, polemizaram sobre a questão.

Para os conservadores, a política e a ideologia teriam convergido para um leito comum, para projetos sociais quase indistinguíveis e a luta política se reduzido a mera ocupação de espaços de poder. A realidade tratou de desmentir tal leitura. O conflito ideológico continua presente e age com força na interpretação dos acontecimentos históricos. O vimos aqui no Brasil, no debate sobre a eventual punição dos torturadores da ditadura militar. Na Espanha, a Justiça suspendeu o juiz Baltasar Garzón – o mesmo que determinou a prisão do ex-ditador chileno Augusto Pinochet por crimes contra a humanidade – porque ele tentou investigar os crimes de mesma natureza praticados pelo Generalíssimo Francisco Franco durante a ditadura espanhola. O mesmo embate ideológico aparece neste início de campanha eleitoral brasileira, embora aqui o pensamento mais à direita, na falta de um representante puro dos seus, venha se valendo da candidatura Serra.

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 17/05/2010)

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