segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Preconceito e ódio

Por João José de Oliveira Negrão

O preconceito descarado, xenófobo mesmo, saiu das profundezas e, sem a vergonha com que se manifestava à boca pequena, ganhou o espaço público, em especial pelas redes sociais da internet. Nordestinos, negros, indígenas foram acusados de “culpa” pela eleição da presidenta Dilma Rousseff. E pouco adiantaram as confirmações matemáticas de que mesmo que se só se apurassem votos no Sul e Sudeste, a petista seria eleita com 29,7 milhões de votos contra os 29,4 milhões dados a Serra. O preconceito é uma maneira de se desobrigar a pensar: fornece uma resposta pronta, padrão, antes que o problema seja formulado.

A estudante de Direito Mayara Petruso parece ter dado início à onda xenofóbica. No dia 1º de novembro, postou, no Twitter, que “nordestisto (sic) não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado”. Foi a senha para uma enxurrada de mensagens de mesmo teor. A OAB-PE moveu uma representação contra Mayara, por racismo e incitação à prática de crime. Em São Paulo, surgiu um autodenominado Movimento São Paulo para os Paulistas.

É inegável que tal acirramento é um dos resultados previsíveis dos rumos que tomou a campanha de José Serra. Ao trazer para a frente do palco temas comportamentais, como aborto e fundamentalismo religioso – fora, inclusive, do âmbito decisório de um Presidente da República –, Serra e seu marketing optaram por uma estratégia semelhante à do movimento Tea Party, a ultradireita norte-americana que tem dado dores de cabeça ao presidente Obama. Além disso, no debate na Rede TV!, Serra afirmou que Dilma e o PT não gostam de São Paulo.

A estratégia do ódio, como sabemos, pode até ter conseguido levar a eleição presidencial para o segundo turno, mas não foi suficiente para a vitória de Serra. No entanto, pode ter deixado marcas profundas, fissuras sociais que precisam ser fechadas.

João José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor em Ciências Sociais e professor do Ceunsp

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 08-11-10)

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