segunda-feira, 6 de junho de 2011

Democracia no continente

Por João José de Oliveira Negrão



Uma foto correu o mundo na semana que passou. Ela mostra um gesto afetivo entre a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, e o presidente do Uruguai, José Mujica, durante um encontro dos dois governantes, que representam seus países. A foto tem um valor simbólico impressionante, que talvez só num futuro próximo seja devidamente avaliado.

Há cerca de 30 anos, nem os mais visionários dos brasileiros ou dos uruguaios sequer imaginariam tal cena: ambos viviam sob ditaduras militares que torturavam, matavam e sumiam com seus opositores, sem qualquer espaço democrático.

Mujica e Dilma têm histórias parecidas. Ambos militaram em organizações que enfrentaram ditaduras sanguinárias e, num determinado momento, optaram pela luta armada. O atual presidente do Uruguai integrou o Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros. Capturado, ficou 14 anos preso, só saindo da cadeia em 1985, com o fim da ditadura dos generais uruguaios. Por sua vez, Dilma fez parte primeiro do Colina (Comando de Libertação Nacional) e depois da VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares). Ficou quase três anos presa, entre 1970 e 1972.

Com a reconquista da democracia, Mujica e Dilma assumiram a luta política. Ele foi deputado e ministro de Estado, até chegar à presidência uruguaia – através de eleições diretas e livres – no final de 2009. Ela foi secretária municipal da Fazenda, secretária estadual de Minas e Energia, no Rio Grande do Sul, e ministra das Minas e Energia e da Casa Civil. Em 2010, foi eleita – também através de eleições livres e diretas – para suceder o ex-presidente Lula.

Nosso continente vai superando a fase das ditaduras militares. A democracia vai se consolidando e as contradições inevitáveis da vida social no sistema capitalista são negociadas e encaminhadas no terreno da disputa política. Tomara que a democracia, desta vez, tenha vindo para ficar. Para sempre.

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 06/06/2011)

Um comentário:

Anderson Oliveira disse...

Muito bom, muito bonito...

Contudo, a democracia por aqui é o nome atualizado do mesmo sistema estamental que Raimundo Faoro denunciou anos atrás.

Os chamados "mensalões" e a existência de Palocci e do PMDB corroboram isso.