A semana que passou foi abalada por duas questões importantes relativas ao mundo do trabalho: a denúncia de escravidão em oficinas têxteis fornecedoras da grife Zara e um estudo, feito na Unicamp, sobre a ausência de relações trabalhistas claras entre as “consultoras” da Natura.
No primeiro caso, uma investigação da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP) encontrou 15 pessoas, entre as quais um adolescente de apenas 14 anos, em condições degradantes, em duas oficinas, uma na zona norte e outra no centro da capital paulista. O flagrante conclui inspeção iniciada a partir de uma outra fiscalização realizada em Americana (SP), no interior. Na ocasião, 52 trabalhadores foram encontrados em condições degradantes; parte do grupo também costurava calças da Zara.
A marca Zara, do grupo espanhol Inditex, é uma das mais caras e mais sofisticadas do mundo.
Quanto à Natura, a pesquisa "Make up do trabalho: uma empresa e um milhão de revendedoras de cosméticos", para o doutoramento da socióloga Ludmila Costhek Abílio pela Unicamp, mostra que a empresa é um exemplo da exploração do trabalho. Ao mesmo tempo em que transmite a imagem de companhia moderna e comprometida com a preservação ambiental, explora o trabalho informal de aproximadamente 1 milhão de revendedoras, contingente equivalente à população de Campinas (SP), que se expõe a riscos inclusive financeiros numa atividade que raramente é reconhecida pela sociedade como um trabalho.
A pesquisa da Unicamp aborda aspectos relacionados à informalização e precarização do trabalho dentro de um segmento denominado Sistema de Vendas Diretas. A Natura foi escolhida por se tratar de uma empresa brasileira multinacional líder de mercado e de reconhecido sucesso comercial. A marca está presente em sete países da América Latina e também na França.
A precarização das relações do trabalho, que não se restringe aos casos mencionados, é uma das piores heranças – ao lado da crise que abala novamente o mundo – da financeirização da economia mundial e da hegemonia neoliberal que marcou o mundo nas últimas quatro décadas. E precisa ser superada.
João José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 22/08/11)
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