segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Jornada de trabalho

Por João José de Oliveira Negrão

Parece claro que o processo de automação, de avanço tecnológico e de gestão científica da produção são inevitáveis, embora o ritmo de sua implantação varie de um setor para o outro da economia e de país para país. O sociólogo italiano Angelo Dina afirma que "será indispensável, portanto, enfrentar a possível redução do trabalho socialmente necessário para produzir bens [...]. Isso é necessário para se passar da ótica de limitar os prejuízos àquela de redistribuir as vantagens da possibilidade de produzir mais e sobretudo melhor”.


O pensador André Gorz opera em sentido semelhante, ao propor como estratégia "a reivindicação de uma duração do trabalho na escala de tempo de uma vida e da distribuição por toda vida do rendimento correspondente [que] possibilita a união na luta dos trabalhadores e dos desempregados de todas as idades, do movimento operário e dos novos movimentos sociais".


Mais do que inevitável, o avanço tecnológico na produção traz embutidas possibilidades positivas no sentido de liberar o trabalho humano de atividades insalubres ou excessivamente desgastantes, além de permitir que a quantidade (medida em horas) de trabalho socialmente necessária à produção e reprodução seja cada vez menor. Devemos entender que o avanço da ciência e da técnica são conquistas da humanidade e -- embora ciência e técnica não sejam neutras -- na apropriação de seus benefícios é que se recoloca o conflito entre capital e trabalho.


Para o mundo do trabalho, importa apropriar-se destes benefícios no sentido descrito acima, permitindo aos trabalhadores maior tempo livre. Para o capital, esta apropriação se dá através da busca de mais lucros e da reprodução ampliada do capital, importando pouco se o processo exclui ou não parcelas significativas de trabalhadores. Ciência e técnica, portanto, são mais uma arena onde se desenvolve a luta de classes. Na resolução (sempre parcial) desse conflito no sentido do interesse da maioria está um ponto importante de avaliação do avanço do processo de democratização de cada país.



João José de Oliveira Negrão é jornalista,

doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 01/07/2011)

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