terça-feira, 9 de agosto de 2011

Princípios e realidade

Por João José de Oliveira Negrão

As Organizações Globo, depois de quase um século de existência – o jornal carioca O Globo foi fundado em 1925 – divulgou o documento “Princípios editoriais das Organizações Globo”, que já pode ser encontrado no G1, site do grupo, e foi notícia no Jornal Nacional de sábado.

Genericamente, o documento defende a pluralidade e a laicidade; entre outros tópicos caros à tradição jornalística. A questão é outra: há um sem número de exemplos que mostram que nem sempre – especialmente quando seus interesses correm algum risco – a Globo tem uma prática condizente com aqueles princípios.

Os exemplos são muitos e vem já da formação do conglomerado. O antigo programa jornalístico Amaral Neto Repórter era uma ode à ditadura militar. Em 1982, quando da eleição de Brizola ao governo do Rio de Janeiro, a Globo se envolveu no caso Proconsult, uma tentativa de golpe para melar o resultado das eleições. Em 89, a famosa edição tendenciosa do último debate entre Collor e Lula. Em 94, o mesmo Brizola conseguiu na Justiça um feito histórico: um direito de resposta lido no ar por Cid Moreira.

Agora, conforme denúncia do repórter Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador, a Globo decidiu ir para cima do Ministro da Defesa, Celso Amorim, recém nomeado. “A orientação é muito clara: os pauteiros devem buscar entrevistados – para o JN, Jornal da Globo e Bom dia Brasil – que comprovem a tese de que a escolha de Celso Amorim vai gerar 'turbulência' no meio militar. Os repórteres já recebem a pauta assim, direcionada: o texto final das reportagens deve seguir essa linha. Não há escolha. Trata-se do velho jornalismo praticado na gestão de Ali Kamel: as 'reportagens' devem comprovar as teses que partem da direção”, afirma Vianna, ele mesmo demitido da Globo junto com Luiz Carlos Azenha por se recusarem a aderir a um abaixo-assinado escrito pela direção da emissora, para “defender” a cobertura eleitoral feita pela Globo.

Os “Princípios” são um bom documento, embora tenham algumas poucas afirmações discutíveis dentro das teorias do jornalismo, e servem de referência para veículos, jornalistas e estudantes de jornalismo. Mas precisam ser seguidos.

João José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 08/08/2011)

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