terça-feira, 6 de julho de 2010

Jornalismo, pluralidade e democracia

Por João José de Oliveira Negrão

A modernidade construiu uma relação simbiótica entre democracia e imprensa livre e independente. O jornalismo que poderíamos chamar de pré-capitalista, com seus jornais e suas pequenas gráficas, desde que nasceu viu-se constrangido pelas tentativas de controle e de censura, quer por parte do Estado, quer por parte da Igreja. No Brasil, as diferentes ditaduras, do Estado Novo, do golpe militar, sempre quiseram controlar a imprensa.

Hoje, o cenário é outro. Quem ameaça a imprensa livre e a democracia, tanto quanto os regimes de força, são os superconglomerados controladores dos veículos de comunicação. Estes oligopólios, no Brasil e no mundo, operam contra a pluralidade e transformaram-se num nicho de poder político e econômico opaco, quase impenetrável aos controles cruzados que a democracia contemporânea veio construindo ao longo de sua história.

Que ninguém pense que este fenômeno só acontece nas capitais e grandes metrópoles. O interior do estado de SP, por exemplo, vê consolidarem-se grupos midiáticos proprietários de jornais, rádios, canais de TV, portais, etc. Isso, sem dúvida, acua a pluralidade. O oligopólio, por definição, é antiplural. Neste cenário, é importante que um jornal como o Diário de Sorocaba chegue aos 52 anos, embora sobrevivendo com dificuldades.

Há, como sempre ocorre na história, contratendências fortes a este movimento. Os jornalões vivem uma crise, que se agrava mesmo em países como o Brasil, onde há um sólido crescimento da economia. Nossos grandes jornais nacionais têm, hoje, uma tiragem bem menor que há 20 ou 30 anos. E se é verdade que podemos creditar parte significativa desta fuga de leitores a novos meios, especialmente a internet, é inegável que há também uma crise de credibilidade.

Os jornais impressos estão frente a um dilema histórico: ou mudam, ou perdem completamente sua funcionalidade. Ninguém precisa mais do jornal para ter acesso à informação bruta, à notícia. Ela vem em enxurrada pela internet, pelo rádio, pela TV. No entanto, estes meios – se ganham em velocidade de informação – pela sua própria rapidez, são pouco afeitos à análise mais profunda, à correlação dos fatos, que efetivamente é capaz de produzir conhecimento. É aí, neste espaço, que os jornais impressos podem ser funcionais.

Outra possibilidade de sobrevida para o jornal impresso são os veículos diários gratuitos, de formato pequeno e leitura rápida, com distribuição de mão em mão, experiência já amadurecida na Europa e trazida para a cidade de São Paulo há alguns anos pelos jornais Destak e Metro. Penso que Sorocaba e região têm solidez econômica e cultural para um jornal deste tipo, ainda mais se aliado a um título com o peso da tradição, como o Diário de Sorocaba. Fica a sugestão.
João José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor em Ciências Sociais e professor do Ceunsp
(Publicado no Diário de Sorocaba de 06/7/2010)

Um comentário:

Anderson Oliveira disse...

Aff...

Já não basta o Bom Dia? Dois jornais de notas em Sorocaba é muita coisa. Ao invés de melhorar, piora o jornalismo feito na cidade.