segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Debates sem graça

Por João José de Oliveira Negrão

Os debates entre candidatos a presidente e a governadores perderam emoção e graça. As tiradas cômicas e inteligentes têm espaço e os enfrentamentos são mornos, mimetizando as estratégias dos marqueteiros que dirigem as campanhas eleitorais. De maneira geral, foram estas as críticas que apareceram após o primeiro debate entre os presidenciáveis, realizado pela TV Bandeirantes na última quinta-feira.

Há um aspecto decisivo para esta análise, no entanto, que só vi tratado na coluna de Clóvis Rossi na Folha de S. Paulo de ontem: a normalidade democrática tende a tornar rotineira a disputa. E se isso reduz a emoção dos grandes enfrentamentos do passado recente – no youtube encontramos passagens históricas de debates entre Lula, Collor, Jânio, Montoro, Maluf, Brizola, etc. –, por outro lado significa que a democracia está cada vez mais consolidada entre nós e que as eleições fazem parte da rotina da vida da sociedade.

Assim, os conflitos entre os diferentes projetos políticos, entre esquerda e direita – distinção que, entendo, mantém toda sua capacidade explicativa – se dão em outros marcos. Além disso, a estrutura do veículo onde acontecem os debates, a televisão, não permite excessos de intervenção: se todos falarem ao mesmo tempo – como acontece entre dez de dez 'mesas redondas' esportivas –, ninguém entende nada e a tendência de fuga do telespectador é grande.

Isso, de certa maneira, torna comparativamente menor, em relação ao passado recente, a importância dos debates na TV, embora ela continue elevada. Além deles e do horário eleitoral, os eleitores utilizam-se de outros mecanismos para suas escolhas. Talvez se possa dizer que o mais importante, ainda, é a ação política dos sujeitos coletivos.

João José de Oliveira Negrão é jornalista,
doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 09/08/10)

Um comentário:

Felipe Shikama disse...

Concordo com a tese de que "o mais importante (na tomada de decisão do eleitor) é "a ação política dos sujeitos coletivos". Afinal, 75% dos brasileiros têm a TV aberta como sua principal fonte de informação sobre política.

Ao mesmo tempo, e sabendo disso, sobretudo nas campanhas majoritárias, as pesquisas de opinião tomam papel decisivo como orientador das mensagens dos candidatos. E é, talvez, balizado pela "opinião da maioria", que raramente vemos candidatos sequer tocarem em temas pouco populares como, por exemplo, a legalização do aborto.

O preocupante, com eventual esvaziamento da participação popular por meio dos "sujeitos coletivos", em minha opinião, é a grande tendência de uniformização dos discursos, dos estilos, da linguagem e, não raro (e mais grave), das próprias propostas dos candidatos.