João José Negrão
A chegada de médicos estrangeiros para
trabalhar no Brasil – especialmente os cubanos – tem gerado uma
discussão ideológica anacrônica, típica da Guerra Fria, que gera
muito mais luz do que calor. Nas redes sociais, pipocam “análises”
ultraconservadoras alertando sobre a “infiltração comunista” no
país. Ao mesmo tempo, defende-se os médicos cubanos contra o
“trabalho escravo”. Quer dizer, os “agentes” são, ao mesmo
tempo, pobres coitados que precisam ser defendidos.
Mas a questão é objetiva: médicos
brasileiros se recusam a assumir certos postos de trabalho. Aqui
mesmo, em Sorocaba – que nem mesmo o mais insensato membro da
oposição local chamaria de “grotão” –, vários concursos
realizados pela Prefeitura não tiveram suas vagas preenchidas, por
falta de interesse dos aprovados em assumir os postos.
O sofisma é grande. Diferentes
organizações médicas ora afirmam que os salários são baixos (o
que nem sempre é verdadeiro), ora dizem que não há estrutura (como
se postos de atendimento primário tivessem de ser superequipados).
Também criticam a “má-formação” dos médicos estrangeiros. O
paradoxo é que um dos líderes da resistência à contratação dos
estrangeiros, o presidente do Sindicato dos Médicos do RS, teve seus
dois filhos formados em Cuba, que tem, neste momento, mais de 17 mil
médicos trabalhando em diferentes países.
O dado real é que há centenas de
cidades e bairros periféricos sem médicos, cuja população é tão
portadora de direitos quanto qualquer morador dos grandes centros.
Por isso, quem precisa mesmo de médicos, quem não suporta mais ter
de se deslocar por quilômetros e esperar meses por uma consulta,
considera bem-vindos os estrangeiros.
João José de Oliveira Negrão é
jornalista, doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp e na
Pós-Graduação em Jornalismo da PUC-SP
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 27/08/2013)
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