terça-feira, 3 de setembro de 2013

Compra de votos

João José de Oliveira Negrão

Chegou às livrarias, há poucos dias, um livro-reportagem que resgata um caso recente e escabroso da história política brasileira: a compra de votos – esta efetivamente comprovada, com nomes de quem vendeu e de quem comprou – que resultou na aprovação do projeto de lei que criou a possibilidade de reeleição do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Palmério Dória, o autor, de O Príncipe da Privataria, é jornalista da velha guarda, tendo passado por redações da grande imprensa e da imprensa alternativa. É autor também, entre outros, dos livros Honoráveis Bandidos: Um Retrato do Brasil na Era Sarney; A Candidata Que Virou Picolé; e A Guerrilha do Araguaia.

Entre outros tópicos – como o papel desempenhado durante a era FHC por Sérgio Motta, o trator, as sobras de campanha, a falência do Bamerindus e os esquemas das privatizações – Dória entrevista o ex-deputado do Acre Narciso Mendes, o Senhor X, que foi quem gravou, para o repórter Fernando Rodrigues, da Folha de S. Paulo, as conversas que teve com o também ex-deputado pelo PFL do Acre, Ronivon Santiago, nas quais este relata que recebeu R$ 200 mil para votar a favor da reeleição de FHC. Ronivon contou ainda, segundo noticiou a Folha na época, que era de seu conhecimento que outros colegas também venderam seus votos: João Maia, Zila Bezerra, Osmir Lima e Chicão Brígido, todos do Acre. O operador, neste caso da compra, foi o então governador Orleir Cameli.

Leitura indispensável neste momento em que se discute a corrupção no Brasil (com os “negociadores” de ontem tentando fazer o papel de vestais) e a possibilidade do fim do financiamento privado de campanhas, O Príncipe da Privataria traz mais uma série de argumentos a comprovar que já passou da hora de termos o financiamento público exclusivo para as campanhas eleitorais.

João José de Oliveira Negrão é jornalista, doutor em Ciências Sociais, professor no Ceunsp e na Pós-Graduação em Jornalismo da PUC-SP

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 03/09/2013)

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