terça-feira, 12 de novembro de 2013

Jango

João José de Oliveira Negrão

Uma das maiores dúvidas da história brasileira começa a ser esclarecida: o ex-presidente João Goulart, deposto pelo golpe militar de Estado em 1964, morreu de causas naturais ou foi assassinado durante seu exílio?

Amanhã (13), haverá a exumação dos restos mortais de Jango, em São Borja (RS). De lá, seguem para Santa Maria (RS), de onde serão transportados para Brasília. O corpo do ex-presidente será recebido com honras de chefe de Estado, com a presença da família e da presidenta Dilma Rousseff. Depois, o corpo seguirá para o Instituto Nacional de Criminalística de Brasília, onde será periciado para verificar a suspeita de que o Jango teria sido envenenado na Argentina.

As suspeitas ganharam corpo depois que um ex-agente de inteligência uruguaio, Mario Neira Barreiro – preso há mais de 10 anos em Charqueadas (presídio de máxima segurança no Rio Grande do Sul) –, declarou, para a Polícia Federal, que Jango foi envenenado. Teriam sido introduzidos comprimidos adulterados entre os que o ex-presidente tomava devido a problema cardíaco. A ação teria contado com o apoio da CIA, através de seu chefe em Montevidéu em 1976, o agente Frederick Latrash e de Sérgio Paranhos Fleury, o caçador de opositores e chefe do antigo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social).

A morte de Jango pode ter sido um dos resultados da Operação Condor, uma articulação secreta e ilegal das ditaduras latino-americanas dos anos 70 para monitorar, perseguir e eliminar opositores aos regimes instalados que ainda estivessem no continente. Para João Vicente Goulart, filho do ex-presidente, “parece bastante claro que as ditaduras de Geisel e Videla atuaram em conluio para impedir a realização de uma autópsia, como costuma suceder quando morre qualquer ex-presidente no exterior”, conforme declarou ao site Carta Maior.

João José de Oliveira Negrão é jornalista, doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp e na Pós-Graduação em Jornalismo da PUC-SP

(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 12/11/2013)

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