João José de Oliveira Negrão
Na última década, a economia brasileira cresceu. Talvez menos do que o esperado, mas cresceu. O consumo de pessoas e famílias, alavancado pelo crescimento do emprego e da massa salarial, chegou a níveis jamais alcançados anteriormente. Centenas de produtos, de eletroeletrônicos a iogurtes, de veículos a roupas, de computadores e tablets a frango e carne bovina, passaram a ser comprados no mercado interno brasileiro. Economistas afirmam que foi o mercado interno quem evitou que o Brasil fosse assolado pela grave crise financeira que abala boa parte da economia capitalista mundial.
Há um produto, no entanto, que não teve crescimento: jornais e revistas, especialmente os títulos da chamada grande imprensa, têm hoje tiragens menores que há uma ou duas décadas. Ou seja, vendem menos numa situação na qual a capacidade de consumo do brasileiro médio se elevou.
Os sinais de crise são evidentes: reestruturação, fechamento de revistas e demissões na Editora Abril; extinção de cadernos, jornal menor e demissões na Folha de S. Paulo; fim do Jornal da Tarde, reestruturação e demissões no Estadão; demissões no Valor, jornal cuja propriedade é dos grupos Folha e Globo. Mesmo a rede Bom Dia se reestruturou e cortou seu quadro de jornalistas e outros funcionários.
A raiz desta crise é dupla. De um lado, a mídia tradicional é acossada pelas novas plataformas de dados e informações. Menos gente parece disposta a comprar notícias que pode ter gratuitamente pela internet. De outro, a maior parte dos jornais e revistas mostra-se pouco criativa em relação às pautas, insiste num discurso conservador, envelhecido e panfletário contra os avanços sociais no Brasil e em outros países da América Latina e não se mostra capaz de agregar ao seu universo de leitores a massa de jovens com maior grau de instrução que o Brasil produziu nos últimos anos.
João José de Oliveira Negrão é jornalista, doutor em Ciências Sociais e professor no CEUNSP
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 11/06/13)
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