João José Negrão
Boa parte do jornalismo econômico – em especial aquele praticado nas tevês – tem, de certa maneira, criado um clima de que a economia brasileira vai mal das pernas. Para isso, se apega a variações das bolsas de valores (que não refletem exclusivamente sintomas da economia nacional, mas também da economia europeia e norte-americana, que enfrentam problemas) ou amplifica dados irrelevantes, como a variação de 0,2% (isso mesmo) da taxa de desemprego comprada de junho de 2012 com junho de 2013. Era 5,8% no ano passado e chegou a 6%. Este índice, segundo diferentes economistas, significa pleno emprego.
Outros números mostram que há uma tentativa de fabricação de crise. O crédito imobiliário, no primeiro semestre de 2013, teve uma elevação de 34%, chegando a R$ 49,6 bilhões. Os dados são da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança). No mesmo período, os depósitos em poupança bateram o recorde histórico, com mais de R$ 28 bilhões positivos (depósitos menos saques), quase o dobro do recorde anterior, de 2012. Também a inadimplência de junho foi a menor registrada nos últimos 18 meses.
Também significativo é o crescimento dos investimentos publicitários. Segundo o Ibope Media, eles cresceram 19% neste primeiro semestre, saindo de R$ 43,84 bilhões em 2012 para R$ 52,03 bilhões agora. Quem é do meio sabe que, nos sinais de uma crise real, um dos primeiros investimentos cortados pelos empresários é a publicidade.
É hora de o nosso jornalismo econômico olhar mais a economia real, produtiva e parar de ouvir sempre as mesmas fontes ligadas ao mundo financeiro. O ex-ministro Maílson da Nóbrega, por exemplo, é uma destas figurinhas carimbadas. Parece que se esquecem que, com ele à frente da Economia, no governo Sarney, a inflação chegou a 89% ao mês.
João José de Oliveira Negrão
é jornalista, doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 30/07/2013)
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