João José Negrão
Não deixou de ser impressionante a fúria com que a PM investiu contra jornalistas nos protestos da semana que passou. Não que baixar o cacete nos outros pode, desde que se preservem os jornalistas. Não vai aqui nenhuma defesa corporativa. Mas profissionais foram presos, detidos e vítimas de agressões e balas de borracha que, ao que tudo indica, cegaram um repórter-fotográfico e quase deixaram sem visão uma repórter. Ao todo, foram 15 os jornalistas que, de alguma maneira, sofreram violências.
Muitos falaram em falta de preparo da PM para lidar com protestos na democracia. Mas eu temo que ela venha sendo preparada para agir, durante manifestações, exatamente desta forma, comportando-se mais como uma guarda pretoriana do governador Geraldo Alckmin do que um braço do Estado voltado à defesa da segurança dos cidadãos. A polícia – que tem cadeia de comando, no topo colocando-se o governador de estado –, não agiu de forma truculenta e excessiva apenas nos protestos recentes. A mesma prática foi adotada na desocupação do Pinheirinho, em assembleias e manifestações de professores, etc. Não dá para esquecer que, há poucos anos, quase tivemos um conflito armado de proporções incalculáveis, quando a PM foi deslocada para reprimir uma manifestação de policiais civis em greve.
Mas qual terá sido o interesse em agredir os jornalistas? Se não podemos entrar em paranoicas teorias da conspiração, também não dá para achar que foi mera coincidência. Houve atos deliberados, como a tentativa de atropelamento de um fotógrafo do Estadão. A fotografia de um policial quebrando vidros de uma viatura teve uma explicação pueril por parte do comando. Vamos torcer para que o aparelho de Estado não esteja se utilizando de agentes provocadores para justificar repressão e mostrar “pulso forte”.
João José Negrão é jornalista, doutor em Ciências Sociais e professor no CEUNSP
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 18/06/13)
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